China e EUA negociam fim da guerra comercial: Passo crucial exige paciência em Genebra

Estados Unidos e China iniciaram neste fim de semana, em Genebra, Suíça, uma nova rodada de negociações para tentar encerrar a prolongada guerra comercial que, desde 2018, afeta mercados globais, eleva tensões políticas e compromete o crescimento das duas maiores economias do mundo. O encontro, realizado nos dias 10 e 11 de maio de 2025, foi considerado por ambas as partes um “passo crucial”, embora Pequim tenha reforçado que será necessário “paciência e perseverança” para avanços concretos.
Importância e relevância geopolítica e econômica
O encontro tem peso simbólico e prático:
1. Participação de altos escalões:
Os dois países enviaram representantes de primeira linha, sinalizando o grau de importância da negociação. Do lado dos EUA, estiveram presentes Scott Bessent, secretário do Tesouro, e Jamieson Greer, representante de Comércio. A China foi representada por He Lifeng, vice-primeiro-ministro e assessor direto do presidente Xi Jinping, e Wang Xiaohong, autoridade máxima em segurança interna.
2. Reflexo nas economias globais:
A guerra comercial tem impacto direto sobre cadeias de suprimentos, inflação mundial e investimentos. A retomada de diálogo sugere um possível alívio no cenário global, ainda que cauteloso.
3. Pressões internas crescentes:
Tanto a administração de Donald Trump quanto o governo de Xi Jinping enfrentam tensões domésticas. Nos EUA, empresários e eleitores pressionam por uma solução, diante de riscos crescentes de recessão. Na China, a desaceleração econômica, embora negada oficialmente, preocupa analistas.
A narrativa chinesa: Otimismo estratégico com dúvidas reais
- Pequim chegou à mesa de negociações com um discurso de força. A agência estatal Xinhua divulgou números otimistas, destacando um crescimento de 5,4% no primeiro trimestre de 2025, exportações totais acima de
US$ 5,9 trilhões
em 2024 e uma diversificação nos parceiros comerciais. - No entanto, o país suspendeu recentemente a divulgação de alguns indicadores econômicos importantes, o que levantou suspeitas sobre a real magnitude da desaceleração. Essa postura ambígua sugere uma tentativa de preservar a imagem de potência estável e ascendente, mesmo diante de desafios internos cada vez mais difíceis de esconder.
O lado norte-americano: Entre pragmatismo e desgaste político
- Donald Trump chegou à reunião tentando se mostrar flexível. Admitiu, por exemplo, que tarifas de 145% sobre produtos chineses podem ser excessivas, sugerindo um corte para 80%. Essa mudança de tom indica uma tentativa de aliviar tensões, especialmente porque sua popularidade está entre as mais baixas da história para um início de mandato.
- Além disso, há forte pressão de empresários, industriais e do mercado financeiro, que temem os efeitos da guerra comercial sobre a inflação e a possibilidade real de uma recessão nos Estados Unidos.
Cautela apesar dos sinais positivos
- Embora o simples fato de uma conversa civilizada entre as partes já represente um avanço, os desafios são muitos. O histórico de desconfiança mútua, as tarifas retaliatórias, as disputas tecnológicas e as visões de mundo opostas dificultam qualquer solução rápida.
- Há, ainda, uma questão filosófica mais profunda: os Estados Unidos estão dispostos a aceitar que o sucesso econômico da China não precisa representar a derrota do Ocidente? Essa visão, defendida por Pequim, desafia a lógica competitiva que norteia boa parte da diplomacia norte-americana.
O encontro em Genebra marca o início de uma nova fase nas negociações entre China e Estados Unidos. Embora carregado de simbolismo e sinais pontuais de abertura, o caminho para um acordo será árduo e repleto de obstáculos estratégicos, políticos e econômicos. A partida de xadrez entre as duas potências apenas começou, e seu desfecho pode demorar bem mais que uma primavera. Para o mundo, resta acompanhar com atenção os próximos movimentos, pois os impactos serão sentidos em todas as economias interligadas a esse delicado jogo de poder global.