O impacto do "Esporte de Elite" na fertilidade de atletas
Esportes de alto rendimento exigem dedicação extrema, mas será que o custo físico pode prejudicar a fertilidade de atletas, especialmente mulheres? Este é um debate crescente, alimentado por relatos como o da campeã olímpica Laura Kenny. A seguir, exploramos como a prática esportiva intensa pode afetar a saúde reprodutiva, baseando-se em estudos científicos e relatos de especialistas.
O caso de Laura Kenny
Laura Kenny é a atleta feminina mais bem-sucedida do Reino Unido, com cinco medalhas de ouro olímpicas. Apesar de sua trajetória brilhante, ela enfrentou desafios na maternidade, incluindo um aborto espontâneo e uma gravidez ectópica.
- Laura dedicou seu corpo ao ciclismo por mais de uma década, treinando ao extremo.
- Após as dificuldades na gravidez, ela questionou se os limites físicos impostos pelo esporte afetaram sua fertilidade.
Como o esporte intenso afeta o corpo das atletas?
O treinamento de elite exerce pressões únicas no corpo humano, especialmente em mulheres.
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Deficiência relativa de energia no esporte (RED-S):
Quando atletas queimam mais calorias do que consomem, podem sofrer com a interrupção dos ciclos menstruais e a falta de ovulação, essencial para a fertilidade. -
Baixa gordura corporal:
A gordura é crucial para a produção de estrogênio, um hormônio vital para a reprodução. A escassez desse hormônio pode comprometer o ciclo menstrual. -
Estresse Psicológico:
A pressão do desempenho também pode desregular a menstruação e dificultar a ovulação.
Quase dois terços das atletas de resistência, como corredoras e ciclistas, têm interrupções menstruais, enquanto na população geral o índice é de apenas 2% a 5%.
Riscos durante a gravidez
Mesmo quando conseguem engravidar, as atletas enfrentam desafios:
Gravidez ectópica:
- Embora comum (11 mil casos anuais no Reino Unido), não há evidências claras ligando diretamente o esporte a esse tipo de gravidez.
Aborto espontâneo:
- Estudos sugerem que exercícios intensos nos primeiros meses de gravidez podem aumentar o risco de aborto, especialmente em atividades de alto impacto.
A busca por soluções: Congelamento de óvulos
A crescente conscientização sobre os riscos levou algumas atletas a optarem pelo congelamento de óvulos para preservar a fertilidade enquanto continuam suas carreiras esportivas.
Conciliação de carreira e família:
Para muitas mulheres, os anos de pico de fertilidade coincidem com o auge físico no esporte, tornando o planejamento familiar um desafio.
Homens também enfrentam problemas
- Atletas masculinos não estão isentos. O déficit de energia pode reduzir os níveis de testosterona, causar alterações no esperma e até disfunção erétil.
Benefícios do exercício moderado
Apesar dos riscos em casos extremos, a prática regular de exercícios tem benefícios:
- Melhora da fertilidade:
Ajuda a regular a menstruação e combater condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP). - Redução do estresse e melhora no sono:
Dois fatores que impactam positivamente a saúde reprodutiva.
Pesquisas e perspectivas futuras
Ainda há muito a ser estudado sobre o impacto do esporte de elite na fertilidade. Especialistas afirmam que a ciência está atrasada quando se trata de mulheres atletas.
- O Comitê Olímpico Internacional reconheceu o RED-S apenas em 2014.
- Há uma demanda por estudos mais amplos e representativos para entender melhor os riscos e propor soluções eficazes.
Embora o esporte de elite traga glória e conquistas, ele também apresenta desafios únicos à fertilidade, principalmente para mulheres. A conscientização sobre o impacto físico e mental do treinamento extremo é essencial para equilibrar saúde e desempenho.
O debate iniciado por atletas como Laura Kenny é um passo importante para abrir diálogos e impulsionar pesquisas que garantam um futuro mais saudável para todos os envolvidos no esporte.