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segunda-feira, 31 de março de 2025 às 11:51 GMT+0

Asilos no Brasil: Amor ou abandono? O dilema dos cuidados com idosos e as verdades que precisamos entender

No Brasil, a ideia de colocar um idoso em uma instituição de longa permanência ainda é vista por muitos como um ato de abandono. Mas será que essa visão faz jus à realidade? Para muitas famílias, essa decisão não nasce da negligência, mas do amor e da responsabilidade, quando os cuidados em casa se tornam inviáveis. O médico gerontólogo Alexandre Kalache, referência no envelhecimento saudável, defende que é hora de quebrar o estigma e entender que, em alguns casos, a institucionalização pode ser a melhor opção para garantir dignidade ao idoso e saúde mental aos cuidadores.

O peso dos cuidados: Quando a família sozinha não dá conta

Cuidar de um idoso dependente pode ser uma tarefa extremamente desafiadora. Ao contrário de uma criança, que se torna mais independente com o tempo, idosos que sofrem de doenças como Alzheimer ou outras condições degenerativas tendem a exigir cada vez mais atenção e assistência.

1. Exaustão física e emocional: Cuidar de alguém 24 horas por dia, por anos, pode levar à sobrecarga e até mesmo a problemas de saúde no cuidador.

2. A sobrecarga recai, principalmente, sobre as mulheres: Historicamente, filhas, noras e esposas assumem esse papel, muitas vezes conciliando-o com trabalho e outras responsabilidades.

3. Famílias menores e distantes: Antigamente, várias gerações viviam juntas, e os cuidados eram divididos. Hoje, muitos idosos contam apenas com um único filho ou sequer têm parentes próximos que possam ajudar.

O julgamento social: "Mas é nossa obrigação cuidar!"

A crença de que "asilo = abandono" pesa na consciência das famílias. Kalache enfatiza que essa culpa é injusta e reforça um estigma perigoso:

"Se uma família decide institucionalizar um idoso, é porque já tentou de tudo antes – e reconhecer essa necessidade não deveria ser motivo de vergonha."

A falta de suporte do Estado: No Brasil, a responsabilidade do cuidado recai quase exclusivamente sobre a família, sem políticas públicas eficazes para oferecer suporte financeiro ou treinamento para cuidadores.

Quando a institucionalização pode ser a melhor solução:

  • Em casos de demência avançada, quando o idoso precisa de supervisão médica constante.

  • Quando a família não tem estrutura física ou emocional para oferecer cuidados adequados (por exemplo, um idoso acamado em uma casa sem adaptações).

  • Quando o cuidador está tão sobrecarregado que desenvolve depressão, ansiedade ou outras doenças.

O mito do "asilo terrível" e a realidade da necessidade

Muitos ainda associam asilos a abandono e maus-tratos, mas essa visão não reflete a realidade de todas as instituições. Sim, faltam opções públicas de qualidade no Brasil, e a fiscalização precisa ser mais rígida. No entanto, quando bem administradas, essas instituições oferecem benefícios que muitas famílias, sozinhas, não conseguem proporcionar.

  • Atendimento especializado: Equipes treinadas para lidar com doenças crônicas e situações emergenciais.

  • Socialização: O isolamento é um problema grave entre idosos. Instituições bem estruturadas oferecem atividades e interação com outras pessoas da mesma faixa etária.

  • Segurança: Ambientes adaptados para evitar quedas, controle de medicação, prevenção de acidentes como deixar o fogão ligado, entre outros.

Como mudar essa visão?

Para que as instituições de longa permanência sejam vistas como uma alternativa legítima e digna para idosos que necessitam desse suporte, é preciso uma mudança de mentalidade e políticas públicas mais eficazes.

1. Conversar sobre o tema sem tabus: Desmistificar a ideia de que "família perfeita cuida sozinha".

2. Cobrar investimentos públicos: Mais ILPIs (Instituições de Longa Permanência para Idosos) públicas e fiscalização das privadas.

3. Aceitar que pedir ajuda não é falha, mas uma decisão consciente: Como Kalache reforça, "buscar apoio não é egoísmo – é realismo".

Institucionalizar um idoso pode ser um ato de amor

A ideia de que colocar um idoso em uma instituição significa "desistir dele" precisa ser superada. O verdadeiro cuidado envolve avaliar o que é melhor para o idoso e para a família como um todo. Em vez de julgar, a sociedade precisa apoiar os cuidadores, garantir melhores condições para os idosos e criar alternativas reais para o envelhecimento digno.

Pontos que devemos repensar:

"Cuidar sozinho até o colapso não é virtude – é desamparo."
"Asilo não é abandono: muitas vezes, é a única forma de garantir segurança ao idoso e saúde a quem cuida."
"O Brasil precisa parar de romantizar o sacrifício e oferecer opções reais para a velhice."

O envelhecimento da população brasileira é um fato, e muitas famílias, em algum momento, terão que enfrentar essa difícil decisão. Que possamos fazer isso com menos culpa, menos preconceito e mais suporte – tanto para quem cuida quanto para quem precisa de cuidado.

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