Coreia do Sul proíbe carne de cachorro: O que acontecerá com 500 mil cães e seus criadores?

Em 2024, a Coreia do Sul aprovou uma lei histórica proibindo a venda de carne de cachorro para consumo, com um prazo até fevereiro de 2027 para que fazendeiros encerrem suas atividades. A medida reflete mudanças culturais e preocupações com direitos animais, mas levanta desafios complexos: o que fazer com os cerca de 500 mil cães ainda em cativeiro e como apoiar os criadores que dependiam desse comércio?
O contexto da proibição e suas motivações
- Declínio cultural: Pesquisas mostram que apenas 8% dos sul-coreanos consumiram carne de cachorro em 2024, ante 27% em 2015. A prática, antes associada a tradições, tornou-se tabu, especialmente entre jovens urbanos.
- Riscos sanitários: Especialistas como Chun Myung-Sun, da Universidade Nacional de Seul, destacam que a carne canina não era regulamentada como outras carnes, aumentando riscos de doenças.
- Pressão internacional: Organizações como Humane World for Animals (Hwak) pressionaram por anos pela proibição, alinhando o país a normas globais de bem-estar animal.
Os desafios pós-proibição
Realocação dos cães:
- Sobrelotação em abrigos: Raças maiores (como tosa-inu), comuns em fazendas, são menos procuradas para adoção em apartamentos urbanos. Abrigos já estão no limite.
- Estigma e eutanásia: Cães de fazendas enfrentam preconceito por traumas ou doenças. Cho Hee-kyung, da Associação Coreana de Bem-Estar Animal, admitiu que a eutanásia pode ser inevitável para alguns.
Fazendeiros em crise:
- Dívidas e desemprego: Criadores como Chan-woo (33 anos) têm até 2027 para vender 600 cães, mas o mercado desapareceu. Muitos, como o reverendo Joo Yeong-bong, acumulam dívidas sem alternativas de renda.
- Falta de compensação: O governo oferece
US$ 450
por cão para quem fechar cedo, mas críticos dizem que é insuficiente para compensar anos de investimento.
Soluções em debate
- Adoção internacional: ONGs enviaram cães para EUA, Canadá e Reino Unido. Yang Jong-tae (ex-criador) emocionou-se ao ver resgatistas tratando seus cães "como seres dignos".
- Extensão do prazo: Fazendeiros pedem mais tempo para esvaziar as fazendas, mas o governo resiste, temendo um comércio clandestino.
- Debate ético: Chun Myung-Sun argumenta que eutanásia em massa seria contraditória, enquanto ativistas defendem mais investimento em abrigos.
Impacto social e cultural
- Geração em transição: Jovens criadores, como Chan-woo, já sabiam que o setor estava em declínio, mas a proibição acelerou a crise.
- Divisão de opiniões: Alguns, como Yang Jong-tae, questionam:
"Por que vacas e porcos podem ser comidos, mas cães não?"
. Outros enxergam os cães como companheiros, não alimento.
A proibição da carne de cachorro na Coreia do Sul marca um avanço nos direitos animais, mas expõe falhas na transição. Enquanto a sociedade abraça novos valores, milhares de cães e fazendeiros ficam em limbo, sem soluções claras. O desafio agora é equilibrar compaixão pelos animais com apoio aos humanos afetados — seja através de adoções internacionais, subsídios governamentais ou diálogo sobre ética alimentar. Como alertou Joo Yeong-bong, sem ações concretas, "algo terrível pode acontecer" até 2027.