Google e o fim da internet? Como a IA pode destruir sites e mudar a Web para sempre

A internet, desde sua criação, opera sob um pacto simples: sites oferecem conteúdo gratuitamente a mecanismos de busca como o Google, que, em troca, direciona tráfego a esses sites, sustentando sua economia por meio de anúncios e vendas. Esse equilíbrio, no entanto, está ameaçado pela integração de inteligência artificial (IA) no buscador do Google. Enquanto a empresa afirma que a tecnologia revitalizará a web, críticos alertam para um possível "apocalipse digital", com impactos profundos na qualidade da informação, no emprego de criadores de conteúdo e na própria estrutura da internet.
O novo modelo do Google e suas implicações
- O anúncio do "Modo IA": Em maio de 2025, o CEO Sundar Pichai revelou uma ferramenta que substitui os tradicionais resultados de busca por respostas geradas por IA, em formato de miniartigos. A Google descreve isso como uma "reinvenção da busca", mas especialistas temem que a redução de cliques para sites externos inviabilize o modelo atual de monetização.
- Impacto no tráfego: Dados indicam que os "AI Overviews" (resumos de IA já em uso) reduziram os cliques em sites em 30% a 70%. Se o Modo IA se tornar padrão, estima-se que o tráfego para a web aberta caia pela metade, ameaçando a sobrevivência de editores independentes.
- A defesa da Google: A empresa argumenta que as ferramentas de IA ampliam a diversidade de fontes acessadas e melhoram a experiência do usuário, mas não divulgou dados concretos para embasar essas afirmações.
Consequências para a internet aberta
- Risco de "web das máquinas": Especialistas como Demis Hassabis (Google DeepMind) preveem um futuro onde sites são otimizados para IAs, não para humanos, com conteúdo consumido principalmente via chatbots. Isso poderia eliminar a serendipidade (encontros acidentais com informações novas) e a diversidade de perspectivas.
- Concentração de poder: Grandes veículos, como The New York Times, já negociam licenças para treinar IAs, mas pequenos criadores ficam excluídos. A Google, acusada de monopólio em tribunais dos EUA, controla 90% das buscas globais, dando-lhe poder para ditar as regras da economia digital.
- Êxodo para redes sociais: Sem tráfego orgânico, muitos sites migram para plataformas como YouTube, onde algoritmos priorizam conteúdo superficial e comercial em detrimento de análises aprofundadas.
Reações e alternativas
- Resistência de editores: Alguns, como a Cloudflare, propõem bloquear rastreadores de IA até que empresas como Google paguem pelo uso de conteúdo. Outros, como a News/Media Alliance, acusam a Google de "apropriar-se" do trabalho alheio sem compensação justa.
- Preocupações com qualidade: Estudos mostram que IAs podem reforçar desinformação e "câmaras de eco", enquanto erros grotescos (como recomendar comer pedras) minam a confiança. A Google alega que a precisão está melhorando, mas reconhece que "delírios" são inerentes à tecnologia.
- O papel dos usuários: Pesquisas indicam que 72% dos americanos já usam chatbots no lugar de buscadores. Se a demanda por respostas rápidas superar o interesse em fontes diversificadas, a web aberta pode definhar.
Cenários futuros
- Pessimista: Editores independentes são dizimados, a web torna-se mais centralizada e homogênea, e a qualidade da informação cai, com IAs replicando vieses e erros.
- Otimista: Novos modelos de monetização surgem, como licenciamento de conteúdo para IAs ou micropagamentos, e reguladores limitam o poder da Google, incentivando concorrência.
- Incerteza: Como resume a pioneira da web Wendy Hall, "algo vai acontecer", mas o caminho exato depende de inovação, regulação e da reação dos usuários.
Um momento decisivo
A internet está à beira de uma transformação radical. O Modo IA do Google promete conveniência, mas coloca em risco a diversidade e abertura que definiram a web por décadas. Se a economia digital não se adaptar, podemos perder não apenas sites, mas a riqueza de vozes e descobertas que os tornavam valiosos. Como afirma Gisele Navarro, do HouseFresh, a questão é se a próxima geração ainda terá espaço para "alimentar a web" com paixão e autonomia — ou se a internet se tornará um jardim onde apenas as máquinas colhem os frutos.