Big Techs e as armas do século 21: Manifestantes e ex-funcionários da Microsoft acusam IA e Nuvem de alimentar conflito em Gaza

No primeiro dia da conferência anual Microsoft Build, em Seattle, manifestantes pró-Palestina protestaram contra o envolvimento de grandes empresas de tecnologia, como Microsoft, Google e Amazon, com o governo de Israel. Os ativistas alegam que serviços de IA e nuvem estão sendo usados como "armas" em conflitos, especialmente na Faixa de Gaza. O TecMundo conversou com um dos organizadores do protesto, Hossam Nasr, ex-funcionário da Microsoft, que detalhou as motivações do movimento.
Cenário do protesto
- Os manifestantes se reuniram em frente ao centro de convenções de Seattle, onde ocorria o evento da Microsoft. Cartazes e gritos de ordem criticavam a colaboração das big techs com Israel, associando-a a supostos crimes contra palestinos. A polícia foi acionada após tentativas de invasão ao local, resultando em pelo menos uma detenção.
Interrupções durante o evento
- Um engenheiro de firmware, Joe Lopez, interrompeu a fala do CEO Satya Nadella para protestar contra os contratos de IA e nuvem da Microsoft com o governo israelense. Esse não foi um caso isolado: em abril, uma funcionária havia interrompido o CEO de IA da empresa, Mustafa Suleyman, durante os 50 anos da companhia.
A voz dos manifestantes
-
Hossam Nasr, ex-engenheiro da Microsoft e membro do grupo "No Azure for Apartheid", explicou ao TecMundo que o movimento busca pressionar a empresa a cortar laços com Israel. Ele foi demitido em 2024 após organizar uma vigília em memória das vítimas palestinas no campus da Microsoft — ação que, segundo ele, seguia as políticas internas da empresa. Nasr afirmou:
-
Tecnologia como arma:
"IA e nuvem são as armas do século 21"
. Para o grupo, essas ferramentas são tão letais quanto armas convencionais quando usadas em conflitos. -
Responsabilidade ética: "Recusamos que nosso trabalho alimente o genocídio do nosso povo". O movimento critica o silêncio das empresas perante relatos de uso militar de suas tecnologias.
A resposta da Microsoft
A empresa negou veementemente as acusações. Em nota enviada ao TecMundo, afirmou que conduziu revisões internas e independentes sobre o uso de suas tecnologias em Gaza e não encontrou evidências de que tenham sido usadas para "atingir ou causar danos a pessoas". A Microsoft reiterou seu compromisso com a ética, mas não comentou os casos específicos de demissões ou protestos.
Pontos importantes:
Os protestos destacam um debate crescente sobre o papel da tecnologia em conflitos globais e a responsabilidade social das big techs. Pontos-chave a considerar:
- Impacto da tecnologia: A IA e a nuvem têm potencial para transformar não apenas a economia, mas também a geopolítica, sendo instrumentalizadas em guerras modernas.
- Ativismo dentro das empresas: Funcionários de grandes corporações estão cada vez mais vocalizando preocupações éticas, pressionando por transparência e mudanças.
- Liberdade de expressão vs. Políticas corporativas: Casos como o de Nasr levantam questões sobre os limites da manifestação dentro de ambientes corporativos.
O conflito entre ativistas e a Microsoft reflete um dilema maior do século 21: como equilibrar inovação tecnológica com direitos humanos. Enquanto manifestantes exigem accountability, as empresas defendem sua neutralidade. A discussão, longe de acabar, deve se intensificar à medida que a IA e a nuvem se tornam ainda mais centrais na sociedade.