China vs. Ocidente: Carros elétricos chineses baratos - Como a China está dominando o mercado global e desafiando a Europa e EUA

O modelo Seagull, lançado na China em 2023 e agora rebatizado de Dolphin Surf na Europa, simboliza algo muito maior do que um carro urbano elétrico de baixo custo. Fabricado pela BYD, maior fabricante de veículos elétricos do mundo desde que ultrapassou a Tesla em 2024, o Dolphin Surf chega ao Reino Unido por cerca de £18 mil (aproximadamente R$135 mil)
, representando uma nova fase da revolução automotiva liderada pela China.
Preço acessível, alta qualidade e ameaça à hegemonia ocidental
Uma pequena gaivota com asas largas no mercado global
A chegada desses veículos não se resume a preços competitivos. Eles reúnem três elementos que preocupam os fabricantes tradicionais:
- Tecnologia de ponta, especialmente em baterias
- Escala de produção massiva, que reduz custos
- Amplo apoio estatal, com financiamento, subsídios e políticas industriais como o “Made in China 2025”
Segundo o banco UBS, a BYD consegue fabricar carros até 25% mais baratos do que marcas ocidentais. Isso reflete não apenas eficiência, mas uma cadeia de suprimentos nacional robusta e uma indústria automotiva altamente digitalizada.
Do mercado doméstico à conquista global
A presença chinesa não se limita à China. Em 2024, 17 milhões de carros elétricos e híbridos plug-in foram vendidos no mundo, dos quais 11 milhões na China. Fora do país, as marcas chinesas já respondem por 10% das vendas globais desse segmento. Marcas como Nio, Xpeng, Zeekr, Omoda, além das controladas MG, Volvo e Lotus, ganham cada vez mais visibilidade e competitividade.
Ameaça percebida e reações no Ocidente
A entrada avassaladora dessas empresas no mercado internacional provocou reações drásticas:
- Estados Unidos: Elevaram tarifas sobre veículos chineses de 25% para 100%, praticamente bloqueando sua entrada
- União Europeia: Impôs tarifas extras de até 35,3%
- Reino Unido: Até o momento, não tomou medidas restritivas
Essas ações foram motivadas tanto por preocupações com a concorrência desleal quanto com possíveis riscos à segurança cibernética.
Segurança e espionagem: Tecnologia sob desconfiança
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Carros modernos são conectados à internet e dependem de atualizações remotas, o que levantou suspeitas de que pudessem ser hackeados, usados como ferramentas de espionagem ou até controlados à distância. Relatórios no Reino Unido apontaram ordens para evitar discussões sensíveis dentro de veículos elétricos, especialmente os de origem chinesa.
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O governo da China nega todas as acusações, alegando que as empresas cumprem leis locais e defendem cadeias de fornecimento seguras. Especialistas como Joseph Jarnecki (Rusi) ponderam que, embora existam riscos, as montadoras têm interesse em manter sua reputação e acesso a mercados externos.
Reação das montadoras ocidentais: Correr contra o tempo
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Marcas europeias como a Renault estão modernizando suas fábricas com produção automatizada, como em Douai, no norte da França, onde surgiu um polo ultramoderno que espelha os métodos chineses. O objetivo: fabricar veículos elétricos acessíveis e competir com a eficiência asiática.
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A Renault também aposta no legado emocional de seus produtos. O novo Renault 5 E-Tech revive o design e o nome de um modelo cultuado da década de 1970, tentando atrair consumidores pela nostalgia e confiança na marca.
Concorrência interna na China impulsiona exportações
Com o mercado interno saturado e competitivo, as marcas chinesas buscam expandir para fora. A entrada da China na OMC em 2001 e a política industrial de 2015 fortaleceram as bases para o atual domínio global. O próprio vice-presidente da Xpeng afirmou que a empresa é competitiva porque sobrevive no mercado mais difícil do mundo.
Entre oportunidades e desafios, o futuro é chinês
A ascensão das montadoras chinesas representa uma transformação estrutural da indústria automotiva. Para os consumidores, isso pode significar mais opções, preços menores e avanços tecnológicos. Para os fabricantes tradicionais e governos, é um desafio à soberania industrial e à segurança.
Apesar das suspeitas e barreiras comerciais, os carros elétricos chineses já são parte fundamental do mercado global. Mesmo veículos ocidentais costumam ter componentes chineses, mostrando que a interdependência é inevitável.
Como diz Dan Caesar, da Electric Vehicles UK, "a realidade é que a China vai ser uma grande parte do futuro" — não só dos carros, mas de toda a cadeia tecnológica internacional.