Conteúdo verificado
domingo, 20 de outubro de 2024 às 10:54 GMT+0

Desigualdade e o Prêmio Nobel de Economia: Reflexões de James A. Robinson

James A. Robinson, renomado economista e cientista político, foi um dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2024, ao lado de Daron Acemoglu e Simon Johnson. O prêmio foi concedido em reconhecimento aos estudos empíricos e teóricos que os três realizaram para compreender as disparidades na prosperidade entre diferentes nações e as complexas dinâmicas da desigualdade.

O estudo da desigualdade e suas raízes históricas

Robinson tem dedicado mais de três décadas a explorar questões centrais sobre a desigualdade global. Sua principal contribuição é entender como as instituições políticas e econômicas moldam as trajetórias de prosperidade e pobreza das sociedades. Ele argumenta que a forma como as instituições são estruturadas — se inclusivas ou extrativistas — influencia diretamente o desenvolvimento econômico e a distribuição de oportunidades.

  • Instituições inclusivas: Essas são instituições que promovem a participação de um número maior de pessoas na vida econômica e política de um país, gerando crescimento sustentável e oportunidades equitativas.
  • Instituições extrativistas: São aquelas que concentram poder e riqueza em uma pequena elite, perpetuando desigualdade e limitando o desenvolvimento para a maioria da população.

O foco de Robinson é mostrar que as diferenças de prosperidade entre países não surgem por acaso. Elas estão profundamente ligadas ao modo como as sociedades se organizaram ao longo da história e como os sistemas políticos e econômicos foram configurados.

América Latina e África subsaariana: Desigualdade enraizada

Um aspecto crucial das pesquisas de Robinson é a análise das regiões da América Latina e da África Subsaariana, áreas marcadas por séculos de exploração colonial e desigualdade sistêmica. Segundo ele, a pobreza e a marginalização nessas regiões estão intrinsecamente ligadas a um passado de colonialismo, escravidão e exploração dos povos indígenas, o que perpetuou as desigualdades até os dias de hoje.

  • América Latina: Ele destaca que a região continua lutando para superar as desigualdades históricas deixadas pelo colonialismo. A pobreza é profundamente enraizada e se manifesta em diferentes formas de exclusão social, desde a marginalização dos povos indígenas até a falta de acesso equitativo a oportunidades econômicas.

  • Apesar disso, alguns países, como Chile e Bolívia, demonstraram progresso na inclusão social e nas instituições democráticas. No entanto, outros, como Venezuela e Nicarágua, continuam presos a crises políticas e econômicas que agravam ainda mais as desigualdades.

  • África subsaariana: Essa região também enfrenta dificuldades significativas para superar as instituições extrativistas que herdou do período colonial. A desigualdade e a pobreza permanecem disseminadas, limitando o desenvolvimento social e econômico.

Desafios à democracia e a ameaça da desigualdade

  • Um dos pontos centrais do discurso de Robinson é que a desigualdade não é apenas uma questão econômica, mas um problema que ameaça diretamente o funcionamento das democracias. Ele aponta que a desigualdade cria um terreno fértil para o populismo, com líderes que oferecem soluções rápidas e superficiais para problemas complexos, muitas vezes em detrimento das instituições democráticas.

  • Robinson ressalta que a democracia é relativamente nova em muitas partes da América Latina e que, apesar das promessas feitas ao povo de que a democracia resolveria seus problemas, os avanços têm sido lentos e frustrantes para muitos. Isso tem levado à busca por alternativas, como líderes populistas que oferecem segurança imediata ou soluções autoritárias, como no caso de Nayib Bukele, em El Salvador, ou Andrés Manuel López Obrador, no México.

  • Essa frustração com a democracia também é evidente em outros lugares do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, Robinson observa que, apesar de ser uma das maiores economias do mundo, o país enfrenta crescentes níveis de desigualdade e uma queda na mobilidade social, o que coloca em risco a estabilidade de suas instituições democráticas.

Como construir sociedades mais inclusivas?

  • Para Robinson, a chave para um futuro mais igualitário está na construção de instituições políticas e econômicas inclusivas. Ele argumenta que é necessário criar sistemas que ofereçam oportunidades iguais para todos e que permitam que as pessoas participem ativamente na vida política e econômica de seus países. A tarefa, no entanto, não é simples.

  • Ele relembra o fracasso da "Primavera Árabe", que no início parecia uma promessa de inclusão e transformação no Oriente Médio, mas que acabou por não conseguir criar instituições democráticas duradouras. Isso ilustra como a mudança estrutural é um processo complexo e difícil, especialmente em regiões com profundas raízes de desigualdade.

O futuro da desigualdade

  • Olhando para o futuro, Robinson alerta que a desigualdade continuará a desafiar as sociedades em nível global, a menos que ações concretas sejam tomadas para reestruturar as instituições e garantir maior inclusão. Ele enfatiza que é "muito difícil ter uma sociedade culturalmente democrática quando há níveis enormes de desigualdade". Para ele, a democracia só funciona plenamente quando as instituições políticas e econômicas dão voz e oportunidades a todos, algo que ainda está longe de ser alcançado em muitas partes do mundo.

A pesquisa de James A. Robinson traz uma mensagem clara: a desigualdade não é apenas um problema econômico, mas um desafio fundamental para a prosperidade e a estabilidade social. Suas análises mostram que a solução está na criação de instituições inclusivas, que promovam a participação equitativa e o crescimento sustentável. No entanto, como ele ressalta, essa transformação exige tempo, paciência e esforços coordenados para mudar as estruturas profundas que mantêm a desigualdade viva.

Estão lendo agora

Inicia consulta pública para potencial redução de até 37% nas tarifas de energia a partir desta quarta-feira(23/08)A partir desta quarta-feira (23), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) abre uma Consulta Pública para discutir...
Descubra as diferenças: Carro de Fórmula E vs. Fórmula 1 - Um mundo de velocidade e tecnologiaA Fórmula E e a Fórmula 1 representam dois universos distintos no automobilismo, cada um com suas peculiaridades e abord...
Enquete ‘A Maior Torcida do Brasil’: Veja como votar no seu time do ♥A enquete “A Maior Torcida do Brasil” é uma iniciativa da CNN Brasil em parceria com a Itatiaia para medir o engajamento...
Transporte para o Rock in Rio 2024: Metrô + BRT por R$ 38,00O Rock in Rio 2024 comemora 40 anos em uma edição especial nos dias 13, 14, 15, 19, 20, 21 e 22 de setembro, no Rio de J...
PIB em ascensão: Descubra os desafios que espreitam a economia nos próximos mesesA economia brasileira registrou um crescimento de 0,9% no segundo trimestre, após uma alta de 1,8% no primeiro trimestre...
Prolongando a vida canina: Ciência em busca da longevidade dos cãesA brevidade da vida canina, com raras exceções como o caso de Bobi, o cachorro português que viveu 31 anos, tem levado c...
Neurotecnologia: As empresas estão lendo nossos pensamentos - Entenda como funciona essa tecnologiaNos dias de hoje, a ameaça à privacidade de pensamento, outrora associada à ficção distópica, tornou-se uma realidade in...
Suzetrigina: O novo analgésico que pode revolucionar o tratamento da dor e reduzir a dependência de opioidesA crise dos opioides tem sido um dos maiores desafios de saúde pública nos Estados Unidos. Esses medicamentos, usados pa...
Taxação de offshores afeta ajustes no salário mínimo e isenção do imposto de rendaO processo de aprovação da medida provisória 1.171, proposta pelo governo Lula para realizar ajustes no salário mínimo e...
Abismo econômico: IGP-M despenca em julho, rompendo recorde com deflação de 7,72% em 12 meses, alerta FGVO Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), também conhecido como a "inflação do aluguel", registrou uma queda de 0,72% em...
Novo Moto G54: Potência Extrema com 12 GB de RAM e 256 GB de ArmazenamentoA Motorola surpreendeu o mercado ao oficialmente lançar o Moto G54, um intermediário repleto de recursos e personalizaçã...