Conteúdo verificado
terça-feira, 15 de abril de 2025 às 09:56 GMT+0

Empresas reclamam, mas pesquisa comprova: Bolsa Família não é vilão do mercado de trabalho

Nos últimos meses, casos como o de um restaurante em São Paulo que culpou o "pessoal do Bolsa Família" pela falta de funcionários viralizaram nas redes sociais. Esses episódios reacenderam um debate antigo: será que o programa social desestimula o trabalho e dificulta a contratação? Para responder a essa questão, analisamos pesquisas acadêmicas, dados oficiais e depoimentos de beneficiários, buscando uma visão equilibrada e baseada em evidências.

O contexto atual: Mercado de trabalho aquecido e expansão do Bolsa Família

1. O Brasil vive um momento de baixo desemprego (6,5% em março de 2024, segundo o IBGE), mas algumas empresas relatam dificuldades para contratar, especialmente em setores como serviços.

2. O Bolsa Família foi ampliado: Saltou de 13,8 milhões para 20,5 milhões de famílias beneficiadas entre 2019 e 2024, com o valor mínimo aumentado de R$ 400 para R$ 600.

3. A "regra de proteção" (criada em 2023) permite que famílias que elevem sua renda para até R$ 759 por pessoa continuem recebendo metade do benefício por dois anos, incentivando a formalização.

O que dizem as pesquisas? Efeitos contraditórios ou complementares?

a) Bolsa Família e emprego formal

  • Um estudo de Gabriel Mariante (London School of Economics) mostrou que, em 2014, mães beneficiárias tinham 7,4% mais chances de entrar no mercado formal. O benefício ajudava a cobrir custos como creche, liberando-as para trabalhar.
  • Exemplo real: Rosilene Martins (MS), ex-beneficiária, usou o auxílio para se estabilizar e hoje tem carteira assinada como doméstica.

b) Queda na taxa de participação no mercado de trabalho

  • Pesquisas do Banco Central e FGV apontam que, entre 2019 e 2023, a taxa de participação (pessoas trabalhando ou buscando emprego) caiu 1,5 ponto percentual, principalmente entre mulheres e jovens de baixa renda.

Motivos:

  • Jovens estão estudando mais (aumento de matrículas).
  • Mulheres dedicam-se mais aos cuidados familiares.
  • Trabalhadores informais passaram a recusar condições precárias, graças à rede de segurança do benefício.

c) Não é preguiça, mas maior seletividade

  • Dados do Ipea mostram que a ocupação entre beneficiários aumentou (de 46,3% para 46,8%), mas muitos saíram da categoria "desempregados" para "fora da força de trabalho", recusando vagas mal remuneradas.
  • Jefferson Brito (ex-beneficiário, hoje empregado no Carrefour) exemplifica: o programa deu-lhe condições de esperar por uma oportunidade melhor.

Críticas e ajustes necessários

  • A "regra de proteção" ainda tem falhas, como a demora para restabelecer o benefício integral em caso de demissão. O governo promete ajustes via decreto ainda em 2024.

  • Estigma: beneficiários como Rosilene relatam ser vistos como "preguiçosos", embora o programa muitas vezes funcione como ponte para o emprego.

Um debate complexo, sem respostas simples

O Bolsa Família não é o vilão da falta de mão de obra, mas um dos fatores que reconfiguram o mercado:

  • Pontos positivos: Reduz pobreza, incentiva educação e formalização, e movimenta a economia (cada R$ 1 investido gera R$ 2,40 no consumo).

  • Desafios: empresas precisam se adaptar a um trabalhador menos desesperado por qualquer emprego, melhorando salários e condições.

Estão lendo agora

Brasil garante vaga na Copa 2026: Fifa celebra feito histórico de único país em todas as ediçõesA seleção brasileira de futebol garantiu sua vaga para a Copa do Mundo de 2026, que será sediada nos Estados Unidos, Méx...
Limerência: A obsessão que muitos confundem com amor – Você esstá preso nesse ciclo?A limerência é um estado emocional intenso, caracterizado por uma obsessão involuntária por outra pessoa. Muitas vezes, ...
"Censo do crime": Estratégias de como o PCC mapeia o Brasil para investir, combater rivais, forjar alianças e manter o controle do crime organizadoO Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do Brasil, tem se destacado não apenas pela viol...
True Crime no Prime Video: Dicas de filmes e séries baseadas em fatos reais que vale a pena conferirSe você é apaixonado por narrativas true crime, o Prime Video é um verdadeiro tesouro, oferecendo uma variedade de filme...
Guerra Mundial em 2025? Descubra os sinais que alarmam os historiadores e os fatores que podem evitar o piorEm um mundo marcado por conflitos como os da Ucrânia e Gaza, além de discursos belicosos de líderes como Vladimir Putin ...
Trump reeleito: O futuro da política global sob uma nova 'Era de Ouro' americanaCom a vitória de Donald Trump, seu retorno ao cargo de presidente dos Estados Unidos gera expectativas e receios em todo...
10 jogos do The Game Awards 2024 que são ótimos e rodam em PCs fracosA The Game Awards 2024 está chegando, prometendo destacar os melhores jogos do ano. No entanto, nem todos os jogadores p...
Como treinar seu cérebro para lembrar de números, datas e outras informaçõesEste artigo explora como a memória humana, mesmo influenciada pela genética, pode ser aprimorada por meio de estratégias...
Tempestades solares: O desafio invisível que pode parar o mundoAs tempestades solares são eventos astronômicos fascinantes que não apenas proporcionam espetáculos visuais como as auro...
10 anos de sucesso do Spotify no Brasil: Sertanejo dominando as paradas - ConfiraDesde o seu lançamento há uma década, o Spotify tem sido um fenômeno no Brasil, com mais de 770 bilhões de streams regis...
Cármen Lúcia no TSE: Desafios e alertas para Eleições Livres em 2024 - Contra o “algoritmo do ódio”A ministra Cármen Lúcia tomou posse como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelos próximos dois anos. Em se...