Gripe Aviária H5N1 no Brasil: Por que a política de "Uma só saúde" é urgente para evitar uma crise sanitária e econômica?

O registro do primeiro caso de gripe aviária H5N1 em uma granja comercial no Rio Grande do Sul, em maio de 2025, marcou um ponto de virada para o Brasil. Antes restrito à fauna silvestre, o vírus agora ameaça a avicultura comercial, elevando riscos sanitários, econômicos e diplomáticos. Como maior exportador mundial de carne de frango, o país enfrenta o desafio urgente de conter a disseminação do H5N1, proteger sua vasta cadeia produtiva e, crucialmente, evitar uma crise de saúde pública. Este texto analisa os impactos da gripe aviária, a resposta governamental e a necessidade imperativa de uma estratégia integrada, pautada no conceito de "Uma Só Saúde" (One Health).
O que é o H5N1 e por que ele é tão perigoso?
- O vírus da influenza aviária H5N1 é altamente patogênico, com elevadas taxas de mortalidade em aves. Sua principal via de disseminação são as aves migratórias, que podem transmitir o vírus para criações domésticas e comerciais. Embora a transmissão para humanos seja rara, os casos registrados são de alta letalidade. O maior temor reside na possibilidade de mutações ou recombinações genéticas que permitam o contágio sustentado entre pessoas, o que poderia desencadear uma pandemia global.
A relevância da ameaça do H5N1 se desdobra em três frentes:
1.
Risco à saúde pública: Apesar de raros, os casos humanos são graves, exigindo vigilância e preparo contínuos.
2.
Ameaça econômica: O Brasil é responsável por mais de 30% das exportações globais de carne de frango. Um surto descontrolado pode resultar em embargos comerciais, como a suspensão temporária de compras pela China em 2025, impactando severamente a economia nacional.
3.
Segurança alimentar: Interrupções significativas na produção avícola podem afetar os preços e a disponibilidade de alimentos, com consequências diretas para a população.
A resposta do Brasil: Avanços e lacunas
Desde a detecção do vírus em aves silvestres no Espírito Santo em 2023, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) agiu prontamente, declarando emergência zoossanitária e investindo R$ 200 milhões em vigilância e contenção de focos. No entanto, a coordenação com as áreas de saúde pública e meio ambiente demonstrou-se insuficiente, expondo fragilidades na resposta integrada.
Alguns pontos críticos evidenciam essa lacuna:
- Falta de integração: O Ministério da Saúde só lançou um plano de contingência em dezembro de 2024, enquanto a participação do Ministério do Meio Ambiente permaneceu limitada, indicando uma desarticulação entre setores vitais.
- Impacto comercial: O caso em Montenegro, no Rio Grande do Sul, levou à suspensão das exportações para a China, ressaltando a fragilidade da reputação sanitária do Brasil no cenário internacional e a urgência de uma resposta coordenada e eficaz.
- Vacinas: Embora o Instituto Butantan venha desenvolvendo uma vacina humana desde 2022, a prevenção ainda depende, em grande parte, de uma vigilância epidemiológica abrangente e bem integrada.
A urgência de "Uma Só Saúde" (One Health)
O conceito de One Health preconiza a integração indissociável da saúde humana, animal e ambiental para a prevenção de pandemias. No Brasil, a desconexão entre a agropecuária, a saúde e o meio ambiente expôs falhas significativas na resposta ao H5N1, reforçando a necessidade inadiável de adotar essa abordagem de forma sistêmica.
A implementação de One Health é crucial por diversas razões:
- Monitoramento eficaz: A vigilância integrada na fauna silvestre, granjas e populações humanas permite a detecção precoce de surtos, possibilitando uma resposta mais ágil e eficaz.
- Coordenação institucional: A colaboração entre diferentes órgãos e ministérios evita a duplicação de esforços e otimiza a alocação de recursos, potencializando a capacidade de resposta do Estado.
- Proteção global: Doenças zoonóticas não reconhecem fronteiras. Ações integradas em nível nacional contribuem para reduzir riscos internacionais, fortalecendo a segurança sanitária global.
O momento de agir é agora
O surto de H5N1 no Brasil evidenciou, simultaneamente, a capacidade de resposta rápida do setor agropecuário e a fragilidade da coordenação intersetorial. Para evitar futuras crises, o país precisa transformar o conceito de One Health em uma política pública permanente, com estruturas dedicadas, financiamento estável e participação equitativa dos setores de saúde, agricultura e meio ambiente. A gripe aviária é um alerta contundente: proteger a saúde humana exige cuidar dos animais e dos ecossistemas que habitamos. O Brasil tem a oportunidade de se posicionar como um líder global nessa abordagem, mas o tempo é crucial.