Por que o real foi a moeda que mais perdeu valor frente ao dólar em 2024 e o que esperar de 2025
Em 2024, o real brasileiro enfrentou uma desvalorização intensa frente ao dólar, tornando-se a moeda que mais perdeu valor entre as 20 mais negociadas do mundo. Esse cenário é resultado de uma série de fatores econômicos globais e internos, que afetaram o valor do real e o comportamento das moedas emergentes. Vamos explorar as principais razões para essa desvalorização e o que pode acontecer no próximo ano.
A desvalorização do real em 2024
Em janeiro de 2024, a cotação do dólar estava em R$ 4,85
. No dia 18 de dezembro, o valor já havia subido para R$ 6,12
, uma queda de cerca de 21% no valor do real. Essa desvalorização foi mais acentuada do que em outras moedas, como o peso mexicano (16%) e a lira turca (16%).
Fatores que influenciaram a alta do dólar
Valorização do dólar no cenário global
- A valorização do dólar foi um fenômeno global. Após a pandemia, o Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) aumentou as taxas de juros para controlar a inflação, atraindo capital de todo o mundo para investimentos nos EUA. Esse aumento na demanda por dólares contribuiu para a desvalorização das moedas emergentes, como o real.
Alta de juros nos EUA e saída de capital
- Quando o banco central dos EUA sobe os juros, os investidores buscam papéis mais seguros, como títulos do governo americano, o que gera uma saída de capital dos países emergentes. Essa fuga de capital para os Estados Unidos provocou uma queda na oferta de dólares nos mercados internacionais, o que pressionou a alta do dólar e a desvalorização de outras moedas.
Inflação nos Estados Unidos
- A inflação nos EUA permaneceu mais alta do que o esperado durante grande parte de 2024, o que manteve os juros elevados. Mesmo com a expectativa de cortes nos juros, esse movimento foi muito mais lento do que o mercado previa, o que fortaleceu ainda mais o dólar.
O impacto da política econômica interna no Brasil
Além dos fatores globais, a situação interna do Brasil também teve impacto significativo na desvalorização do real.
Inflação e incerteza econômica no Brasil
- A inflação brasileira fechou 2024 com uma taxa de 4,87%, acima da meta do governo, que era de 4,5%. A combinação de uma economia aquecida e a incerteza sobre as contas públicas aumentou a desconfiança dos investidores em relação à estabilidade econômica do Brasil. Isso gerou uma pressão sobre a moeda brasileira, com o mercado preferindo investir no exterior, onde a expectativa era de retornos mais seguros.
Pacote fiscal e juros elevados
- Em novembro de 2024, o governo anunciou um pacote fiscal que gerou dúvidas sobre o controle da inflação no Brasil. Mesmo com juros mais altos no Brasil, a expectativa de uma inflação persistente fez com que o real continuasse desvalorizado. A recente elevação da Selic (taxa básica de juros) de 11,25% para 12,25% também não foi suficiente para reverter essa tendência.
Projeções para 2025 e o cenário futuro
O futuro do real em relação ao dólar é incerto, mas existem alguns cenários que podem impactar a moeda brasileira em 2025:
Eleições nos EUA e políticas de Trump
- Com a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, as expectativas são de que ele adote políticas que visam enfraquecer o dólar. Trump defende uma moeda americana mais fraca para estimular as exportações e reduzir o déficit comercial dos EUA. Contudo, especialistas acreditam que essas políticas podem, na prática, fortalecer ainda mais o dólar, dada a confiança nos fundamentos econômicos americanos.
Projeções do mercado para o dólar
- O mercado financeiro brasileiro espera que o dólar siga em alta no curto prazo, com projeções de que a cotação do dólar pode cair para cerca de
R$ 5,85
até o final de 2025. No entanto, essas projeções têm se ajustado frequentemente, sugerindo que a valorização do real será limitada, com poucas chances de uma recuperação significativa nos próximos anos.
A desvalorização do real em 2024 foi um reflexo direto da combinação de fatores globais e internos: a força do dólar, impulsionada pelas altas taxas de juros nos EUA, e a fragilidade econômica do Brasil, marcada por inflação alta e incertezas fiscais. Esse cenário fez com que o real fosse a moeda que mais perdeu valor frente ao dólar, afetando a economia e o poder de compra da população.
Em 2025, não há grandes expectativas de recuperação significativa para o real. O dólar tende a continuar forte, enquanto o Brasil precisa enfrentar desafios internos para restaurar a confiança dos investidores. A verdadeira mudança só virá com políticas eficazes que controlem a inflação e estabilizem a economia.