Quadribol como esporte: Como Harry Potter transformou uma comunidade em Uganda
O esporte fictício do quadribol, popularizado pelos livros de Harry Potter, tem o poder de unir pessoas, transformar comunidades e inspirar mudanças profundas. Essa história ganhou vida no coração de Uganda, mais especificamente na vila de Katwadde, graças à iniciativa de John Ssentamu, um professor com uma visão transformadora para a sua comunidade.
O surgimento da ideia
- Em 2013, Ssentamu se deparou com o universo de Harry Potter enquanto viajava de ônibus em Kampala. Ao emprestar o livro de um colega, ele se viu fascinado pelo quadribol, um jogo fictício jogado com vassouras voadoras. Esse interesse logo se converteu em uma ideia inovadora: usar o quadribol como ferramenta para combater problemas estruturais enfrentados pela sua comunidade, como a pobreza, o analfabetismo e a desigualdade de gênero.
O impacto na comunidade
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Ssentamu, junto com sua esposa, se mudou para Katwadde com o objetivo de levar educação para crianças em vilarejos rurais, onde a frequência escolar era extremamente baixa. Ele decidiu adaptar o quadribol para a realidade local, criando um esporte acessível que pudesse envolver tanto meninos quanto meninas, sem depender de equipamentos caros ou infraestrutura sofisticada.
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A adaptação do jogo envolvia o uso de pneus ocos como aros e gravetos como vassouras. A ideia era unir a comunidade em torno de um esporte que fosse acessível, democrático e, acima de tudo, inclusivo. O impacto foi imediato: o esporte se tornou uma paixão que atraiu as crianças da vila e ajudou a aumentar o engajamento delas com a escola.
Crescimento e reconhecimento internacional
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O projeto logo ganhou destaque. Em 2023, o documentarista Ben Garfield registrou a história no filme The Ugandan Quidditch Movement, que acompanhou a jornada do primeiro time de quadribol de Uganda. Esse time teve um crescimento impressionante e foi selecionado para participar da Copa do Mundo Internacional de Quadribol. No entanto, a pandemia de covid-19 e os custos elevados impediram a viagem.
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Apesar disso, o objetivo de Ssentamu nunca foi a Copa do Mundo em si. Em uma entrevista, ele afirmou que o principal objetivo era usar o quadribol como uma plataforma para combater os problemas sociais de Uganda, promovendo a inclusão e a educação. Segundo Doug Baldinger, produtor do documentário, o quadribol se tornou uma forma de lançar luz sobre esses desafios e proporcionar oportunidades para os jovens da comunidade.
Os resultados e legado
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Embora muitos dos jogadores nunca tivessem ouvido falar de Harry Potter antes, o esporte rapidamente ganhou popularidade. A diversidade de gênero foi uma das chaves para o sucesso, permitindo que meninas e meninos jogassem juntos, quebrando barreiras sociais e culturais. Além disso, a falta de infraestrutura fez com que todos começassem do zero, criando um espírito de união e colaboração.
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Ao longo dos anos, o time de quadribol se tornou um ponto de orgulho para a comunidade de Katwadde e para o país. Membros do time, que começaram como crianças na escola, agora competem em times regionais e se tornaram defensores dos valores que o quadribol representa. Richard, um dos membros mais destacados do time, fundou uma instituição de caridade com seu irmão, focada em educar crianças órfãs e transmitir os princípios de solidariedade que ele aprendeu por meio do esporte.
O quadribol, em sua versão adaptada por John Ssentamu, não é apenas um esporte; ele é um símbolo de transformação social e educacional. Ao promover a inclusão, a educação e a igualdade de gênero, o jogo criou uma comunidade mais coesa e engajada. Ssentamu, com sua visão de longo prazo, ainda nutre o sonho de levar sua equipe para a Copa do Mundo, mas, para ele, a verdadeira vitória já foi conquistada: a mudança positiva na vida das crianças e na comunidade de Katwadde.