Bolsonaro no STF: Como o depoimento sobre o golpe foi noticiado pela imprensa internacional

O depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), como parte da investigação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, atraiu significativa atenção da imprensa internacional. Veículos como The Guardian, Financial Times, BBC e Al Jazeera examinaram o tom de Bolsonaro, suas alegações e o contexto político desse julgamento, que representa um momento crucial para a democracia brasileira.
O depoimento como palco político
- A imprensa internacional notou que Bolsonaro utilizou a audiência como uma plataforma política. O The Guardian ressaltou que ele defendeu seu governo (2019-2023) e criticou a atual administração do presidente Lula, ao mesmo tempo em que negou qualquer envolvimento em um plano golpista. Contudo, Bolsonaro admitiu ter discutido "vias alternativas" para permanecer no poder, como a decretação de estado de sítio, mas alegou que não havia "clima" para tal medida.
O encontro com Alexandre de Moraes: Tensão e reverência
- A relação entre Bolsonaro e o ministro do STF, Alexandre de Moraes, foi um dos pontos mais observados. O The Guardian lembrou que, no passado, o ex-presidente chegou a chamar Moraes de "idiota" e "canalha". No entanto, durante o depoimento, Bolsonaro pediu desculpas a ele e a outros ministros por acusações infundadas. O Financial Times destacou que Moraes, um dos supostos alvos de planos de assassinato, conduziu o interrogatório de forma direta, enquanto Bolsonaro respondeu de maneira "bem-educada", ainda que com falas por vezes "confusas".
Um julgamento com repercussões históricas
- A BBC News e a Al Jazeera enfatizaram a importância histórica do julgamento, sendo este o primeiro de um presidente brasileiro por crimes relacionados a golpe de Estado desde o fim da ditadura militar (1964-1985). O The Guardian acrescentou que é também a primeira vez que militares de alta patente são julgados por tentativa de golpe no país, marcando um precedente significativo para a justiça e a consolidação democrática.
O contexto das eleições e os atos de 8 de Janeiro
- A Al Jazeera contextualizou o caso, lembrando que Bolsonaro nunca reconheceu abertamente a derrota para Lula em 2022 e que seus apoiadores promoveram protestos pedindo intervenção militar. A BBC salientou que, embora o ex-presidente estivesse nos EUA durante os ataques de 8 de janeiro, os promotores argumentam que ele incitou a violência ao descrevê-la como a "última esperança" para anular a eleição.
Consequências potenciais para Bolsonaro
- O Financial Times recordou que, se condenado, Bolsonaro pode enfrentar décadas de prisão. Além disso, a Al Jazeera mencionou que ele já está inelegível até 2030 e foi duramente criticado por sua gestão durante a pandemia de COVID-19, que resultou em uma das maiores taxas de mortalidade do mundo. A cobertura internacional também resgatou o legado controverso do ex-presidente, desde o negacionismo na pandemia até sua admiração pelo período ditatorial, oferecendo um panorama crítico e abrangente do momento atual do Brasil.
O depoimento de Jair Bolsonaro no STF foi um evento de grande relevância política e histórica, amplamente coberto pela imprensa internacional. Os veículos destacaram o uso político da audiência, a relação tensa com Alexandre de Moraes e o simbolismo do julgamento para a democracia brasileira. O caso reforça a importância do sistema judicial na investigação de ameaças às instituições, ao mesmo tempo em que coloca Bolsonaro em um cenário de incertezas jurídicas e políticas.