Gaza à beira do colapso: Reino Unido, França e Canadá ameaçam Israel com sanções por bloqueio de ajuda

A crise humanitária em Gaza atingiu um ponto crítico, levando três potências ocidentais — Reino Unido, França e Canadá — a emitirem um alerta conjunto a Israel. Em um comunicado divulgado na segunda-feira (19/05), os líderes desses países exigiram a interrupção das operações militares israelenses e o acesso imediato de ajuda humanitária à população palestina. O bloqueio imposto por Israel desde 2 de março impediu a entrada de alimentos, medicamentos e combustível, agravando uma situação já descrita pela ONU como "desastrosa".
O bloqueio humanitário e suas consequências
-
Situação crítica: A ONU alerta que a quantidade de ajuda autorizada a entrar em Gaza é insignificante diante das necessidades urgentes. Apenas cinco caminhões cruzaram a fronteira em 19/05, após 11 semanas de bloqueio.
-
Impacto humano: Tom Fletcher, chefe de ajuda humanitária da ONU, afirmou que 14 mil bebês podem morrer em 48 horas sem suprimentos médicos. A falta de alimentos e remédios já elevou o número de mortos para mais de 53 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza (controlado pelo Hamas).
-
Direito internacional: A negação de assistência básica viola o Direito Internacional Humanitário, conforme destacado no comunicado dos três países.
A resposta de Israel e as críticas internacionais
-
Posição de Netanyahu: O primeiro-ministro israelense acusou Reino Unido, França e Canadá de "premiar o Hamas" ao exigirem o fim da guerra. Ele afirmou que Israel permitiria uma "quantidade básica" de alimentos, mas mantém o plano de assumir o controle total de Gaza.
-
Reações à decisão: Parceiros da coalizão ultranacionalista de Netanyahu, como o ministro Itamar Ben Gvir, criticaram a medida, alegando que ela "alimentaria o Hamas".
-
Deslocamento forçado: Os líderes ocidentais condenaram as ameaças de realocação permanente de civis palestinos, classificando-as como violação do direito internacional.
O contexto da guerra e o incidente que mudou o cenário
-
Gênese do conflito: A guerra foi desencadeada pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou 1,2 mil israelenses e resultou em 251 reféns. Cerca de 58 reféns permanecem em Gaza, com até 23 vivos.
-
Evento-chave: O assassinato de 15 paramédicos e trabalhadores humanitários por tropas israelenses em 23/03 foi um ponto de virada. Um vídeo gravado por uma das vítimas desmentiu a versão inicial de Israel, mostrando que ambulâncias claramente marcadas foram alvo de ataques deliberados.
-
Perda de apoio: Segundo Jeremy Bowen, editor da BBC, o incidente esgotou a simpatia internacional por Israel, especialmente entre aliados tradicionais.
Pressão diplomática e possíveis medidas futuras
-
Ameaças não especificadas: O comunicado não detalhou as "ações concretas" que seriam tomadas, mas a França considera reconhecer a Palestina como Estado independente em uma conferência em junho, junto com a Arábia Saudita.
-
Cúpula europeia: Antonio Costa, presidente do Conselho Europeu, denunciou a violação sistemática do direito internacional em Gaza e exigiu acesso livre à ajuda humanitária.
-
Divisão global: Enquanto países ocidentais pressionam por um cessar-fogo e uma solução de dois Estados, Netanyahu insiste que a guerra é "defensiva" e acusa os críticos de incentivar novas atrocidades.
A crise em Gaza expõe uma crescente fissura entre Israel e seus aliados ocidentais. O bloqueio humanitário, somado a ações militares controversas, levou Reino Unido, França e Canadá a adotarem um tom inédito de confronto. Enquanto a população palestina enfrenta fome e doenças, a comunidade internacional debate medidas para pressionar Israel sem desestabilizar a região. O incidente com os paramédicos tornou-se um símbolo da escalada de violência, reforçando apelos por uma solução política duradoura — incluindo o reconhecimento de um Estado palestino. No entanto, com Netanyahu determinado a continuar a guerra e o Hamas ainda mantendo reféns, o caminho para a paz permanece incerto e repleto de desafios.