"Irã vs. Israel": Quem são os aliados do Irã no conflito e por que eles não são suficientes?

Ao longo de décadas, o Irã, sob a liderança do aiatolá Ali Khamenei, meticulosamente construiu uma rede de alianças conhecida como o "Eixo da Resistência". Essa articulação visa contrabalançar a influência de Estados Unidos e Israel no Oriente Médio, consolidando o Irã como uma potência regional. No entanto, a realidade é que muitos desses parceiros enfrentam crises internas ou estão significativamente enfraquecidos, o que tem posicionado o Irã em uma situação de notável "solidão estratégica".
Este resumo detalha os principais parceiros do Irã, as limitações inerentes a essas alianças e o impacto direto dessas dinâmicas no atual cenário de tensão com Israel.
Grupos armados no Oriente Médio (O eixo da resistência)
O Irã oferece apoio a diversos grupos considerados organizações terroristas por boa parte do Ocidente, sendo estes os pilares de sua influência regional:
- Hamas (Faixa de Gaza): Atualmente engajado em uma devastadora guerra contra Israel desde outubro de 2023, o grupo enfrenta um risco iminente de erradicação.
- Hezbollah (Líbano): Tradicionalmente uma grande preocupação para Israel, tem sido enfraquecido por ataques israelenses direcionados às suas infraestruturas e capacidade operacional.
- Houthis (Iêmen): Apesar de suas ações contra interesses ocidentais no Mar Vermelho, sua capacidade de impacto em um conflito de larga escala é limitada.
- Milícias no Iraque e Síria: Embora apoiem o Irã, essas milícias estão fragmentadas ou sob intensa pressão militar, o que reduz sua eficácia.
Embora esses grupos ampliem a influência regional do Irã, sua eficácia é questionável frente à superioridade militar de Israel e seus aliados ocidentais.
Rússia: Uma parceria com limites claros
A relação entre Irã e Rússia é marcada por laços militares e econômicos, mas com ressalvas significativas:
- Cooperação e acordos: A Rússia tem fornecido apoio diplomático ao Irã e adquirido drones iranianos, amplamente utilizados na guerra na Ucrânia. Em 2024, ambos os países assinaram um acordo estratégico, contudo, sem cláusulas de defesa mútua.
- Limitações estratégicas: Moscou demonstra cautela, evitando compromissos diretos que possam prejudicar suas relações com outras nações do Oriente Médio, como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos.
A aliança com a Rússia é mais simbólica do que efetiva em termos de apoio militar direto. Moscou tende a priorizar a mediação via ONU em vez de um confronto explícito.
China: Interesses econômicos acima da aliança
A China adota uma postura pragmática e baseada em seus interesses econômicos na região:
- Posição diplomática: Pequim condenou os ataques israelenses, mas evita um alinhamento explícito. É o maior comprador de petróleo iraniano, mesmo diante das sanções internacionais.
- Cautela estratégica: A prioridade da China é manter boas relações comerciais com todas as nações da região, incluindo rivais do Irã, como a Arábia Saudita.
Embora a China tenha integrado o Irã na Organização de Cooperação de Xangai (2023), sua postura geral é de neutralidade pragmática, sem indicação de apoio militar em um conflito.
Coreia do Norte: Cooperação em armamentos
A colaboração entre Irã e Coreia do Norte é focada no desenvolvimento de armamentos:
- Histórico: Desde a guerra Irã-Iraque (1980), há um histórico de troca de armas por petróleo. O míssil Shahab-3 iraniano, por exemplo, é baseado em tecnologia norte-coreana.
- Restrições: Sanções internacionais severas limitam a extensão e a relevância dessa colaboração no cenário atual.
América Latina: Aliados ideológicos, mas pouco efetivos
Apesar de algumas afinidades ideológicas, a América Latina oferece um apoio limitado:
- Venezuela: Nicolás Maduro expressou solidariedade, mas a cooperação se restringe a trocas pontuais de petróleo e apoio retórico em fóruns internacionais.
- Outros aliados: Cuba, Nicarágua e Bolívia, membros da ALBA, criticam os EUA em plataformas globais, mas não oferecem qualquer tipo de suporte militar ou relevante ao Irã.
- Contexto brasileiro: O Brasil mantém relações diplomáticas com o Irã, mas adota uma posição de neutralidade no conflito, priorizando o diálogo multilateral e a resolução pacífica.
O Isolamento Estratégico do Irã
Apesar de sua ambiciosa rede de alianças, o Irã enfrenta uma inegável "solidão estratégica" devido a diversos fatores críticos:
- Divisões Xiita-Sunita: A maioria esmagadora dos países muçulmanos é sunita, o que limita significativamente a influência da teocracia xiita iraniana.
- Geografia desfavorável: O Irã está cercado por potências hostis, como Israel e Arábia Saudita, dificultando a formação de uma frente regional coesa.
- Falta de aliados robustos: As parcerias com Rússia e China são majoritariamente circunstanciais e econômicas, não garantindo apoio militar direto em caso de escalada.
O conflito atual expôs as fragilidades do "Eixo da Resistência". Enquanto Israel pode contar com o robusto apoio ocidental, o Irã depende de grupos enfraquecidos e de aliados distantes, o que reduz drasticamente sua capacidade de escalar a guerra sem sofrer consequências severas e isolamento ainda maior. A comunidade internacional teme um conflito ampliado, mas a realidade aponta para um Irã mais isolado do que nunca em sua estratégia de confrontação.