Lula e Janja: Falas na China incendeiam debate sobre regulação das redes no Brasil

As recentes declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, Rosângela da Silva (Janja), durante visita à China, reacenderam uma forte controvérsia sobre a regulação das redes sociais no Brasil. Parlamentares da oposição e mesmo figuras moderadas do Congresso veem as falas como prejudiciais ao debate, já paralisado desde 2023, e denunciam possível interferência estrangeira e tentativa de censura. A tensão aumentou com a intenção do governo de contar com apoio técnico do governo chinês, o que agravou o impasse político no Parlamento brasileiro.
Contexto do projeto parado
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O projeto de regulação das redes sociais está estagnado desde maio de 2023. Na época, o então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou um grupo de trabalho para "rediscutir" o tema, o que, na prática, engavetou a proposta. A medida foi interpretada como uma forma de esfriar a pauta diante da intensa polarização política e da falta de consenso entre os parlamentares.
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Desde então, o debate sobre o tema tem sido considerado "interditado", ou seja, paralisado por um ambiente tóxico de polarização, onde o diálogo construtivo se torna quase impossível. Deputados e senadores relatam à imprensa que não há mais clima para avançar com a proposta, e que qualquer tentativa é vista com desconfiança por parte da oposição e até mesmo de aliados.
O que Lula e Janja disseram na China
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Durante um jantar oficial com o presidente chinês, Xi Jinping, Lula afirmou ter pedido ao líder do país que enviasse ao Brasil uma “pessoa de confiança” para discutir a questão digital, especialmente os impactos do TikTok — plataforma chinesa frequentemente associada a influências comportamentais, especialmente sobre jovens. Janja aproveitou a ocasião para destacar preocupações com os ataques digitais contra mulheres e crianças no Brasil, e os riscos associados à desinformação e discurso de ódio.
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Em suas falas, Lula voltou a defender a regulamentação das redes, dizendo ser inadmissível que as plataformas digitais continuem operando sem qualquer tipo de controle, enquanto cometem abusos. A primeira-dama, por sua vez, criticou o machismo e a misoginia predominantes nos ambientes virtuais e nas reações à sua atuação.
Reações e críticas da oposição
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A oposição classificou as falas como “alarmantes” e interpretou o pedido de apoio técnico da China como uma tentativa de importar um modelo de censura. O líder da oposição na Câmara, Luciano Zucco (PL-RS), chegou a dizer que se trata de um risco para a soberania nacional e uma
“censura disfarçada de regulação”
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Parlamentares também criticaram o fato de Janja, que não ocupa cargo oficial no governo, ter participado ativamente de uma conversa diplomática. Além disso, o deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE), autor de um projeto alternativo à regulação das redes, protocolou um pedido para que o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, seja convocado a prestar esclarecimentos à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
Por que isso importa
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Aumenta a polarização: O tema já vinha sendo tratado com muita cautela no Congresso. A entrada do governo chinês no debate brasileiro gerou forte reação e empurrou ainda mais o projeto para a estagnação.
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Interferência externa: O envolvimento da China gera receios legítimos sobre ingerência estrangeira em decisões soberanas do Brasil, ainda mais em áreas sensíveis como a comunicação e o controle de conteúdo digital.
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Uso político das falas: Setores da oposição aproveitam o episódio para reforçar o discurso de que o governo busca censurar críticas e restringir a liberdade de expressão.
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Papel de Janja: A atuação da primeira-dama levanta debates sobre os limites e as responsabilidades de figuras públicas sem cargo formal no Executivo, especialmente em eventos diplomáticos internacionais.
O episódio envolvendo as falas de Lula e Janja na China não apenas travou ainda mais o avanço do projeto de regulação das redes sociais, como acirrou a tensão política entre o governo e a oposição. A possibilidade de uma “consultoria” vinda da China foi interpretada por muitos como uma tentativa velada de importar métodos autoritários de controle da informação, o que minaria o princípio da liberdade de expressão. Mesmo que a intenção do governo seja a de proteger mulheres, crianças e o debate público, a falta de diálogo transparente e a escolha de interlocutores geram desconfiança.
O Grande Debate: Janja expôs governo Lula com declaração para Xi na China?
Sem consenso no Congresso e com as acusações de censura ganhando força, o projeto de regulação segue sem perspectiva de retomada. Para que haja qualquer avanço, será necessário construir um novo canal de diálogo com a sociedade e o Parlamento, com base em critérios democráticos, técnicos e transparentes — longe de polarizações, improvisações e ruídos diplomáticos.