Lula no G7: O que o Brasil busca e o que o mundo espera de Lula em meio à crise de popularidade?

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou ao Canadá para participar, como convidado, da cúpula do G7 — grupo formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido. Embora esteja ali sem direito a voto, Lula chega com uma missão dupla: mostrar que o Brasil é um interlocutor relevante no cenário global e reposicionar sua imagem internacional num momento em que enfrenta queda de popularidade interna.
Por que Lula participa do G7
Apesar de críticas à legitimidade do grupo, Lula tem comparecido às reuniões desde 2003. Ele destaca a importância maior do G20 — que inclui países como o Brasil, China e Índia — por sua "densidade econômica e humana", mas comparece ao G7 para reafirmar que o Brasil está aberto ao diálogo com os países do chamado "norte global". Sua presença sinaliza que o Brasil busca manter pontes com o Ocidente, mesmo com o avanço de relações com países como China e Rússia.
A importância do momento para Lula
Diferente de encontros anteriores, Lula chega ao G7 enfrentando uma forte queda de aprovação popular — apenas 28%, segundo o Datafolha — e críticas por estar frequentemente fora do país. Além disso, seu governo tenta recuperar arrecadação após dificuldades para manter medidas fiscais, como o aumento do IOF.
O que Lula busca no G7
Lula tenta atingir três grandes objetivos:
1.
Reforçar a posição do Brasil como potência internacional moderadora: A participação é vista como uma forma de mostrar que o país não é alinhado automaticamente com blocos antiocidentais, como se especula por sua proximidade com os Brics e com líderes como Vladimir Putin.
2.
Avançar na agenda ambiental: Às vésperas da COP30, que ocorrerá em Belém em 2025, Lula busca apoio internacional para pressionar países a apresentarem metas mais ambiciosas de redução de gases de efeito estufa.
3.
Buscar acordos comerciais e fortalecer laços diplomáticos: Está prevista uma possível reunião com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para tentar reconstruir a relação diplomática abalada pelas posições brasileiras sobre o conflito com a Rússia. Também poderá haver reunião com o primeiro-ministro canadense para reabrir negociações de um acordo Mercosul-Canadá, interrompido no governo anterior.
Lula e o equilíbrio geopolítico
- Apesar de Lula ter condenado a guerra na Ucrânia, ele já acusou os Estados Unidos de "incentivarem" o conflito e comparou a ação de Israel em Gaza ao Holocausto, o que gerou forte reação internacional. A ida ao G7 seria, portanto, uma oportunidade para contrabalançar essas críticas e mostrar que o Brasil atua com autonomia, mas sem ruptura com o Ocidente.
- A aproximação com China e Rússia — parceiros comerciais importantes — não deve ser lida como um afastamento automático dos Estados Unidos e Europa. Lula tenta posicionar o Brasil como um articulador confiável de diálogo entre polos opostos.
O que o G7 quer de Lula
- A presença de Lula e de outros líderes do "sul global" — como os da África do Sul e da Índia — serve para ampliar a legitimidade do G7, que já não consegue, sozinho, ditar os rumos da política e da economia global. A economia somada dos países dos Brics já supera a do G7, o que leva o grupo a buscar diálogo com potências emergentes.
- Além disso, o Brasil é estratégico por sua posição como uma das maiores economias do mundo, por sua relevância ambiental (sobretudo em temas relacionados à Amazônia) e por ser visto como uma liderança respeitada na América Latina.
A expectativa do G7 em relação ao Brasil
- Para especialistas como Houssein Kallout, o G7 deseja que o Brasil ajude a mediar conflitos (como Ucrânia e Oriente Médio), lidere iniciativas ambientais globais e contribua com propostas para preservar uma ordem internacional baseada em regras. A participação brasileira também reforça o papel dos países em desenvolvimento nas decisões multilaterais.
A ida de Lula ao G7 não é apenas uma visita diplomática. É uma tentativa de reposicionar o Brasil como uma ponte entre Ocidente e Oriente, entre o norte desenvolvido e o sul emergente. Ao mesmo tempo em que reforça a imagem do Brasil como liderança ambiental e defensora do multilateralismo, Lula precisa equilibrar suas alianças com China e Rússia diante de uma opinião pública internacional sensível às escolhas geopolíticas. O G7, por sua vez, vê no Brasil uma oportunidade de manter sua relevância no cenário global e de alinhar agendas estratégicas com uma potência que, embora emergente, é imprescindível para o futuro do planeta — especialmente no que diz respeito ao clima, à segurança e à nova ordem econômica internacional.