Nacionalismo é fascismo? Entenda a diferença e quando o patriotismo vira extremismo

O nacionalismo é frequentemente associado à política de direita e a regimes autoritários, mas sua relação com o fascismo é mais complexa do que parece. O artigo de Xosé M. Núñez Seixas, historiador da Universidade de Santiago de Compostela, explora essa conexão, destacando as nuances entre nacionalismo, patriotismo e fascismo. Com base em análises históricas e exemplos contemporâneos, o texto desmistifica generalizações e apresenta um panorama detalhado sobre como o nacionalismo pode — ou não — evoluir para ideologias fascistas.
Nacionalismo vs. patriotismo: Diferenças e sobreposições
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O patriotismo é visto como um "nacionalismo de baixa intensidade", baseado no amor à pátria sem necessariamente excluir outros grupos.
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O nacionalismo radical, por outro lado, muitas vezes adota tons xenófobos e supremacistas, aproximando-se do chauvinismo.
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A linha entre os dois conceitos é tênue, mas crucial: enquanto o patriotismo pode ser inclusivo, o nacionalismo extremo tende à exclusão.
Compreender essa distinção ajuda a evitar equívocos comuns, como associar todo sentimento nacional a ideologias extremistas.
Nacionalismos subestatais e minoritários: Nem sempre de direita
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Movimentos nacionalistas como o Partido Nacional Escocês ou o Bloco Nacionalista Galego defendem autodeterminação sem vinculação à extrema direita.
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Exemplos históricos, como o Sinn Féin (Irlanda), mostram que o nacionalismo pode ser vinculado a causas progressistas e de esquerda.
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Contudo, há exceções: partidos como o Vlaams Belang (Bélgica) combinam nacionalismo minoritário com ideais de extrema direita.
Esses casos demonstram que o nacionalismo não é monolítico — seu caráter depende de contextos históricos e objetivos políticos.
A relação entre nacionalismo e fascismo: Quando a linha é cruzada
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O fascismo se apropria do nacionalismo, mas adiciona elementos como militarização, supremacia étnica e culto ao líder.
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Nacionalismos étnicos do século XIX, marcados por racismo e expansionismo, foram terreno fértil para o fascismo no período entreguerras.
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No entanto, nem todo nacionalismo leva ao fascismo: Ideologias liberais e republicanas também usam símbolos nacionais sem adotar autoritarismo.
O artigo enfatiza que
"Todo fascista é nacionalista, mas nem todo nacionalista é fascista".
As cinco características do nacionalismo fascista
Seixas identifica traços específicos que diferenciam o nacionalismo fascista de outras formas:
1.
Militarização da sociedade: Valores como disciplina e sacrifício são elevados acima dos direitos individuais.
2.
Darwinismo social: Justificativa da violência contra "inimigos" internos ou externos, com base em superioridade racial/cultural.
3.
Nação acima da religião: A lealdade à pátria substitui ou subordina crenças religiosas.
4.
Fusão entre nação e Estado: O Estado é visto como a encarnação da nação, eliminando distinções.
5.
Culto ao líder: Figura carismática (como o Führer nazista) personifica a nação e concentra poder absoluto.
Exemplo: O expansionismo territorial do nazismo e o irredentismo de Putin ilustram esses princípios.
Nacionalismos contemporâneos: Riscos e ressalvas
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Movimentos como o "Make America Great Again" (EUA) ou o nacionalismo Hindutva (Índia) ecoam retóricas fascistas, mas não são idênticos.
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O populismo de direita atual muitas vezes instrumentaliza o nacionalismo para fins autoritários, embora com variações locais.
Advertência: O artigo alerta para o perigo de simplificar análises — contextos históricos e institucionais determinam se um movimento nacionalista pode se tornar fascista.
Nacionalismo não é sinônimo de fascismo, mas exige vigilância
O trabalho de Seixas revela que, embora o fascismo dependa do nacionalismo, a recíproca não é verdadeira. Nacionalismos emancipatórios ou de esquerda existem e não devem ser equiparados a regimes autoritários. No entanto, quando combinado com militarização, exclusão étnica e culto à personalidade, o nacionalismo pode sim se tornar um vetor do fascismo. A chave está em discernir os limites entre identidade nacional e projetos políticos opressivos — uma tarefa essencial para defender democracias em um mundo de extremos.