Dia do trabalhador ou Dia do trabalho? A história do 1º de Maio no Brasil e como Getúlio Vargas transformou a data

O dia 1º de maio é reconhecido mundialmente como uma data emblemática para a classe trabalhadora, marcada por lutas históricas por direitos e melhores condições laborais. No brasil, porém, essa data passou por uma transformação significativa, especialmente durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), que alterou seu significado original, deslocando o foco do trabalhador para o trabalho. Este resumo explora a origem da data, sua oficialização no brasil e como vargas a reinterpretou para consolidar seu projeto político.
A origem do dia do trabalhador
A data remonta a 1886, quando trabalhadores em Chicago, nos Estados Unidos, iniciaram uma greve exigindo a jornada de oito horas. A repressão violenta e a morte de manifestantes transformaram o 1º de maio em um símbolo global da luta operária. No Brasil, as primeiras celebrações ocorreram no final do século 19, impulsionadas por imigrantes europeus que trouxeram ideias anarquistas, socialistas e comunistas.
- Representa a resistência contra a exploração capitalista.
- Unificou movimentos trabalhistas em torno de demandas comuns, como direitos básicos e redução da jornada.
A oficialização no Brasil e a fase inicial
Em 1924, o presidente Artur Bernardes (1922-1926) oficializou o 1º de maio como feriado nacional, chamando-o de "dia da confraternidade universal das classes operárias". Na época, a data ainda mantinha seu caráter reivindicatório, com manifestações e greves, como a greve geral de 1917 em São Paulo.
- Mostra a tentativa do estado de controlar um movimento que crescia de forma autônoma.
- Reflete a influência de ideologias revolucionárias entre os operários brasileiros.
Getúlio Vargas e a ressignificação da data
Com a chegada de Vargas ao poder, o dia do trabalhador foi gradualmente transformado em "dia do trabalho". O governo populista de Vargas adotou estratégias para cooptar o movimento sindical, criando o ministério do trabalho (1930), legalizando sindicatos atrelados ao estado e instituindo a consolidação das leis do trabalho (CLT) em 1943.
- Despolitização: As manifestações passaram a ser eventos cívicos, com desfiles e celebrações patrocinadas pelo estado, em vez de protestos.
- Pelego sindical: Sindicatos perderam autonomia, tornando-se instrumentos de controle governamental.
- Narrativa de "dádiva": Vargas apresentava direitos trabalhistas como concessões do governo, não como conquistas das lutas operárias.
Impacto:
1.
Reduziu o caráter combativo da data, enfraquecendo a organização independente dos trabalhadores.
2.
Fortaleceu a imagem de Vargas como "pai dos pobres", consolidando seu apoio entre a classe trabalhadora urbana.
O legado e a despolitização contemporânea
Nas décadas seguintes, o 1º de maio no brasil tornou-se cada vez mais associado a shows e eventos de entretenimento, distanciando-se de suas raízes reivindicatórias. Governos posteriores, incluindo o PT (2003-2016), mantiveram a tradição de festejos, embora alguns movimentos sindicais ainda realizem protestos.
Análise crítica:
- A data reflete a tensão entre a mobilização autônoma dos trabalhadores e a tentativa do estado de domesticá-la.
- A CLT, apesar de avanços, também serviu para institucionalizar relações trabalhistas sob controle estatal.
Entre a memória e a domesticação
O primeiro de maio no brasil é um exemplo de como datas simbólicas podem ser reinterpretadas pelo poder político. Se, originalmente, representava a luta dos trabalhadores por direitos, vargas a transformou em um instrumento de controle social e propaganda governista. Hoje, a data oscila entre o festejo oficial e a resistência sindical, revelando as contradições da história trabalhista no país.