Feriado de 9 de Julho em SP: A história da Revolução de 1932 que poucos conhecem

No dia 9 de julho, São Paulo celebra um feriado estadual em memória da Revolução Constitucionalista de 1932, um dos movimentos mais significativos da história brasileira do século XX. Este conflito armado foi uma resposta paulista ao governo de Getúlio Vargas, que havia assumido o poder em 1930 através de um golpe de Estado. A revolução deixou marcas profundas na política, na cultura e na geografia urbana de São Paulo, além de influenciar a redemocratização do Brasil.
O contexto histórico
Após derrubar o presidente Washington Luís e impedir a posse do sucessor eleito, Getúlio Vargas centralizou o poder, reduzindo a autonomia dos estados e nomeando interventores alinhados aos seus interesses. Em São Paulo, a insatisfação cresceu, culminando em um levante armado iniciado em 9 de julho de 1932. O movimento buscava a convocação de uma Assembleia Constituinte e a restauração da democracia.
O estopim: O massacre de 23 de Maio
A revolução teve seu estopim em 23 de maio de 1932, quando quatro jovens manifestantes: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo (conhecidos como MMDC) foram mortos por tropas getulistas no centro de São Paulo. Esse episódio radicalizou a oposição ao governo federal e uniu diferentes setores da sociedade paulista em torno da causa constitucionalista.
O conflito e seu desfecho
A Revolução de 1932 foi o maior conflito militar do Brasil no século XX, com combates no interior e na capital paulista. Apesar da resistência organizada que incluiu a produção de armas e até a cunhagem de moeda própria, os paulistas se renderam em 2 de outubro, após três meses de lutas. O saldo foi de 934 mortos, sendo 634 constitucionalistas.
O legado da Revolução
Apesar da derrota militar, a Revolução de 1932 alcançou vitórias políticas:
- Constituição de 1934: Getúlio Vargas convocou uma Assembleia Constituinte, atendendo a uma das principais demandas dos revolucionários.
- Fortalecimento da democracia: O movimento reforçou a importância da participação popular e da vigilância cidadã sobre os governantes.
- Valorização da identidade paulista: A revolução consolidou símbolos como a bandeira de São Paulo e inspirou monumentos que até hoje marcam a cidade.
Marcas físicas da Revolução em São Paulo
A memória do movimento permanece viva em diversos locais:
- Obelisco do Ibirapuera: Mausoléu que abriga os restos mortais dos quatro MMDC e de centenas de combatentes.
- Avenidas 23 de Maio e 9 de Julho: Principais vias que homenageiam datas-chave do movimento.
- Edifício "Ouro Para o Bem de São Paulo": Construído com joias doadas pela população para financiar a revolução.
- Faculdade de Direito do Largo São Francisco: Abriga uma escultura em homenagem aos estudantes mortos em combate.
A Revolução na historiografia
- Por muito tempo, a Revolução de 1932 foi marginalizada na narrativa histórica nacional, em parte devido à longa permanência de Vargas no poder (até 1945). Alguns mitos, como a ideia de que o movimento era separatista ou elitista, foram sendo revisados a partir dos anos 1980, revelando seu caráter plural e democrático.
A Revolução Constitucionalista de 1932 foi um marco na luta por democracia e autonomia no Brasil. Seu legado transcende a derrota militar, influenciando a política nacional e deixando marcas indeléveis na cultura e na paisagem de São Paulo. O feriado de 9 de julho não só honra a coragem dos que lutaram, mas também nos lembra da importância de defender instituições justas e participativas. Como diz o historiador Paulo Rezzutti, "um Estado se levantou por uma Constituição — e isso merece ser celebrado".