Israel vs. Irã: A batalha pelo poder nuclear e a queda do regime

A tensão entre Israel e Irã atingiu um novo patamar após o anúncio de uma campanha militar israelense liderada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Os objetivos são claros: neutralizar o programa nuclear iraniano e enfraquecer o regime clerical que governa o Irã. Este resumo aprofunda a análise de Ian Parmeter, pesquisador da Australian National University, explorando as motivações de Israel, as estratégias em jogo e os desdobramentos imprevisíveis de um conflito que pode remodelar o Oriente Médio.
Os ambiciosos objetivos estratégicos de Israel
Israel busca atingir duas metas principais com essa ofensiva, ambas com implicações profundas para a segurança regional e global:
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Desmantelar o Programa Nuclear Iraniano: O foco principal de Israel é eliminar a capacidade do Irã de desenvolver armas nucleares. Isso envolve a destruição de instalações-chave, como a usina de Fordow, que está estrategicamente localizada sob montanhas e é de difícil acesso, e a neutralização do vasto estoque de urânio enriquecido do Irã. Atualmente, o Irã já enriqueceu urânio a 60%, um nível muito próximo do necessário para a fabricação de bombas nucleares, o que acende um alerta vermelho para Israel e seus aliados.
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Desestabilizar o Regime Iraniano: Além da ameaça nuclear, Israel visa fomentar a instabilidade interna no Irã. Netanyahu aposta que ataques militares possam catalisar revoltas populares, aproveitando o histórico descontentamento da população com o governo teocrático, como evidenciado pelos protestos generalizados em 2022. A esperança é que a pressão militar externa, combinada com a insatisfação interna, leve a uma mudança de regime.
Por que isso é tão crucial?
A concretização da ameaça nuclear iraniana representa um perigo existencial para Israel e desestabilizaria toda a região. Um Irã sem armas nucleares poderia, em tese, reduzir as tensões. No entanto, a desestabilização do regime, embora um objetivo de Israel, carrega o risco significativo de criar um vácuo de poder e um caos generalizado, com consequências imprevisíveis para os países vizinhos e para a segurança global.
Cenários possíveis para o conflito: Um jogo de xadrez geopolítico
A complexidade do conflito Israel-Irã sugere diversos caminhos que a situação pode tomar:
1. Retomada das negociações: Uma janela que se fecha?
- Antes da recente escalada militar, os Estados Unidos vinham tentando renegociar o acordo nuclear de 2015 (Plano de Ação Conjunto Global - JCPOA), do qual o ex-presidente Donald Trump se retirou em 2018. No entanto, Netanyahu tem demonstrado pouca inclinação para o diálogo, preferindo buscar uma "vitória militar" que possa fortalecer sua imagem política, especialmente após as críticas recebidas pela sua gestão na guerra contra o Hamas em 2023.
- A pressão internacional: A comunidade global certamente exigirá um cessar-fogo para evitar uma escalada ainda maior. Contudo, Israel tende a resistir a essas pressões, insistindo em resultados concretos que garantam sua segurança.
2. Destruição total do programa nuclear: Uma tarefa Hércules?
- Mesmo com ataques precisos, destruir completamente o programa nuclear iraniano é um desafio imenso. Instalações como Fordow, protegidas por montanhas, seriam extremamente difíceis de neutralizar sem operações terrestres arriscadas. Além disso, mesmo que Israel utilize as chamadas "bombas de penetração", há a possibilidade de o Irã reconstruir suas capacidades nucleares no futuro.
- O papel da inteligência: Para que um golpe seja definitivo, a inteligência israelense precisaria localizar com precisão todos os estoques de urânio e, crucialmente, as centrífugas ocultas, que são essenciais para o enriquecimento.
3. A queda do regime iraniano: Um sonho ou uma ilusão?
- Há fatores que poderiam favorecer a queda do regime iraniano, como a eliminação de líderes militares-chave (como o chefe da Guarda Revolucionária, caso ocorra) e a persistência dos protestos internos. No entanto, o regime iraniano demonstrou uma notável resiliência, sobrevivendo a guerras e a décadas de sanções econômicas, em grande parte devido ao seu eficiente aparato de repressão.
- O risco da unidade nacional: Curiosamente, ataques a alvos civis ou uma invasão estrangeira podem ter o efeito oposto ao desejado por Israel: em vez de enfraquecer o regime, poderiam unir a população em torno do governo, despertando um senso de nacionalismo e resistência.
4. O envolvimento de outros países: Uma dança geopolítica delicada
O conflito tem o potencial de arrastar outros atores regionais e globais, embora com diferentes níveis de envolvimento:
- Estados Unidos: Washington é um aliado crucial de Israel, fornecendo apoio de inteligência e armamentos. No entanto, o governo Biden tem procurado evitar um envolvimento militar direto na região, especialmente em um ano eleitoral como 2024 (e que se estenderá até 2025 para as consequências), buscando evitar ser arrastado para outro conflito no Oriente Médio.
- Rússia: Priorizando sua guerra na Ucrânia, a Rússia provavelmente não intervirá militarmente em favor do Irã, apesar de suas críticas às ações de Israel.
- Países Árabes: Nações como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos têm evitado se envolver diretamente, mantendo um diálogo, ainda que cauteloso, com o Irã. Eles buscam evitar serem arrastados para um conflito que poderia desestabilizar ainda mais a região.
Ponto crítico: O cenário mais perigoso seria se o Irã decidisse atacar bases americanas na região. Isso quase certamente levaria a uma retaliação dos EUA, escalando o conflito para proporções regionais e até globais.
Incógnitas e riscos: O fio da navalha
Este conflito está repleto de incertezas e riscos significativos:
- Capacidade militar iraniana: O Irã ainda possui um arsenal considerável de mísseis capazes de atingir Israel, testando a eficácia do sistema de defesa israelense "Domo de Ferro".
- Reação israelense e popularidade de Netanyahu: O primeiro-ministro israelense prometeu retaliação severa caso civis israelenses sejam alvejados. Sua popularidade e, por extensão, sua sobrevivência política, dependem largamente do sucesso desta campanha militar.
- O perigo pós-guerra: Se o Irã se sentir encurralado ou derrotado, pode abandonar completamente os tratados de não proliferação nuclear, acelerando seus esforços para obter armas atômicas no futuro, tornando a região ainda mais perigosa.
Um conflito com consequências duradouras
- A campanha de Israel contra o Irã é uma aposta de alto risco. Se bem-sucedida, poderá adiar a ameaça nuclear iraniana por um tempo, mas corre o risco de radicalizar ainda mais o regime e desestabilizar profundamente o Oriente Médio. Por outro lado, se a operação falhar em seus objetivos, Netanyahu enfrentará uma forte pressão interna, e o Irã poderá emergir do conflito mais determinado do que nunca a obter armas atômicas, aumentando exponencialmente o perigo na região.
A comunidade internacional observa com grande preocupação, pois os desdobramentos desse confronto afetarão não apenas o Oriente Médio, mas terão repercussões significativas para a segurança global. O futuro da região e a estabilidade mundial dependem, em grande parte, do desenrolar desses eventos.