Mini influenciadores ou vítimas? "Não somos o cliente, somos o produto" - Alerta de Jonathan Haidt sobre o impacto da infância digital
Jonathan Haidt, psicólogo social e autor do best-seller A Geração Ansiosa, tem se destacado como uma das vozes mais críticas ao impacto das redes sociais na saúde mental de crianças e adolescentes. Em entrevista à CNN, ele alerta para os perigos da "infância digital desprotegida", um fenômeno agravado pela exposição precoce a plataformas como TikTok, Instagram e YouTube. Haidt não apenas questiona o uso dessas ferramentas, mas revela uma lógica perturbadora:
"Não somos os clientes das redes sociais; somos o produto vendido aos anunciantes".
A exploração das crianças na economia da atenção
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Haidt critica duramente o fenômeno dos "mini influenciadores" — crianças transformadas em marcas pessoais, com milhões de seguidores. O problema vai além da exposição:
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Crianças como mercadoria: Quando pais incentivam seus filhos a se tornarem influenciadores, estão, na prática, vendendo a atenção deles a anunciantes.
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Impacto psicológico: Essa dinâmica comercializa a infância, expondo crianças a pressões inadequadas para sua idade, como a busca por validação virtual e a perda de privacidade.
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Falha ética: Haidt defende que essa prática deveria ser ilegal, comparando-a a formas de exploração infantil.
O preço invisível: A crise da concentração
Além da exposição, Haidt destaca um dano ainda mais grave: a erosão da capacidade de foco.
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Geração dispersa: Crianças hiperconectadas têm dificuldade para se concentrar por 30 minutos seguidos, o que prejudica aprendizados profundos e habilidades críticas.
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Consequências econômicas: Uma geração com déficit de atenção pode ter produtividade reduzida, afetando não apenas indivíduos, mas toda a sociedade.
Soluções propostas: Regulação e mudança cultural
Haidt não se limita a criticar; ele oferece caminhos concretos, divididos em ações governamentais e sociais:
1. Medidas legais:
- Proibir smartphones antes dos 14 anos.
- Permitir redes sociais apenas após os 16 (como já ocorre na Austrália).
2. Mudanças coletivas:
- Escolas livres de celulares (como a lei recente no Brasil).
- Incentivo a brincadeiras ao ar livre e autonomia infantil.
- Pacto social: Pais, educadores e comunidades precisam se unir para criar normas compartilhadas, independentemente de divisões políticas.
Um alerta global: Quem está educando nossas crianças?
Haidt encerra com uma reflexão urgente:
"Se as plataformas controlam o tempo e a atenção das crianças, elas estão moldando o futuro da sociedade".
Seu argumento ressoa em um momento em que países como Brasil, Austrália e EUA debatem regulações, mas ainda falham em proteger a infância de forma efetiva.
Reconstruindo a infância no século XXI
A análise de Haidt não é apenas sobre tecnologia; é sobre humanidade. Ele convida a sociedade a repensar prioridades:
- Proteção coletiva: Crianças não são produtos, e sua atenção não deve ser monetizada.
- Futuro sustentável: Sem concentração, autonomia e experiências reais, as próximas gerações enfrentarão desafios ainda maiores.
A mudança exige leis, mas também consciência — pois, como ele lembra:
"Todos os pais do mundo, independentemente de política, enfrentam o mesmo inimigo".