Trump coloca em prática o uso da força contra a população: Guarda nacional mobilizada em Los Angeles em meio a protestos por imigração

A cidade de Los Angeles se tornou o epicentro de uma intensa disputa entre o governo federal e as autoridades estaduais e locais após uma série de protestos massivos. Desencadeados pela prisão de imigrantes por agentes federais, esses protestos levaram o então presidente Donald Trump a uma decisão controversa: ordenar o envio de 2.000 soldados da Guarda Nacional para a cidade. Essa medida, tomada sem o consentimento do governador da Califórnia, Gavin Newsom, gerou uma onda de debates sobre a autonomia dos estados, o uso de forças federais em crises domésticas e trouxe à memória eventos históricos marcantes, como os distúrbios de 1992. Este resumo aprofunda os eventos, seus contextos e as ramificações dessa mobilização, com base em reportagens da CNN e da BBC.
O estopim dos protestos: Operações de imigração e a resposta cívica
- Os protestos em Los Angeles tiveram início em 6 de junho de 2025, imediatamente após a prisão de 44 indivíduos em operações de imigração. Essas ações foram parte de uma política de imigração mais rígida implementada pela administração Trump, caracterizada por batidas policiais e deportações em larga escala. A resposta da população foi imediata e intensa. Milhares de manifestantes tomaram as ruas, expressando sua indignação contra as políticas federais e a forma como as prisões foram conduzidas. Os confrontos com a polícia local foram inevitáveis, resultando no uso de gás lacrimogêneo e granadas de efeito moral para dispersar a multidão.
A intervenção federal: A ordem presidencial e suas implicações
-
A escalada da situação levou o presidente Trump a intervir diretamente. No sábado, 7 de junho, ele assinou um memorando presidencial que autorizava o envio da Guarda Nacional para Los Angeles. A base legal para essa ação foi o Título 10 do Código dos EUA, que confere ao presidente a autoridade para mobilizar forças federais em casos de "rebeliões" ou para "executar leis".
-
A federalização da Guarda Nacional sem a solicitação ou o consentimento do governador estadual é uma medida rara e historicamente controversa. A última vez que um presidente exercitou essa prerrogativa de forma unilateral foi em 1992, durante os distúrbios civis que assolaram Los Angeles, após a absolvição de policiais envolvidos na agressão a Rodney King. A decisão de Trump reacendeu as tensões sobre os limites do poder presidencial e a soberania dos estados.
Reações políticas e sociais: Um divisor de águas
A decisão de Trump de enviar a Guarda Nacional gerou uma enxurrada de condenações e apoio, evidenciando a profunda polarização política nos Estados Unidos:
- Oposição do Governador Gavin Newsom: O governador democrata da Califórnia, Gavin Newsom, criticou veementemente a ação federal, classificando-a como "inflamatória" e alertando para o risco de escalada da violência e de um confronto desnecessário entre forças federais e a população.
- Críticas de organizações civis: Organizações de direitos civis e de defesa dos imigrantes, como a Liga dos Cidadãos Latino-Americanos Unidos (LULAC), manifestaram sua indignação. Eles compararam a mobilização a "táticas militares" e alertaram para a criminalização da dissidência e dos imigrantes.
- Manifestações contínuas e detenções: Apesar da presença federal anunciada, os protestos não diminuíram. Manifestantes continuaram a bloquear rodovias e ruas importantes, e a polícia estadual realizou centenas de detenções em uma tentativa de conter a desordem.
O papel da Guarda Nacional: Uma força de reserva em destaque
- A Guarda Nacional é uma força de reserva militar dual, o que significa que atua tanto sob o comando do estado quanto, em certas circunstâncias, pode ser federalizada e subordinada ao presidente. Tradicionalmente, ela é empregada em emergências domésticas, como desastres naturais, operações de busca e resgate, e em apoio a autoridades civis em crises. No entanto, sua mobilização em protestos e distúrbios civis, como o ocorrido em Los Angeles, é a mais ampla e controversa em décadas. A questão central é a autonomia: embora normalmente responda aos governos estaduais, a capacidade do presidente de federalizá-la levanta preocupações sobre a centralização do poder.
Contexto histórico: Ecos do passado
A mobilização da Guarda Nacional em Los Angeles evoca memórias de episódios semelhantes na história americana, mas com diferenças cruciais:
- Casos anteriores: A Guarda Nacional tem um histórico de intervenções em momentos de grande tensão social. Durante a década de 1960, por exemplo, foi utilizada para garantir direitos civis, como a proteção de manifestantes na marcha de Selma, em 1965, ou para fazer cumprir decisões de dessegregação escolar.
- A diferença crucial em 2025: Ao contrário de muitas ações passadas, a ordem de Trump não partiu de uma solicitação das autoridades locais ou estaduais. Essa ausência de um pedido local é o cerne da controvérsia, levantando questões sobre o respeito à autonomia dos estados e a potencial militarização de questões civis.
Desinformação e tensões aumentadas
- O episódio foi ainda mais complicado pela desinformação e pela retórica polarizada. O presidente Trump, por meio de suas redes sociais, elogiou a atuação da Guarda Nacional e a necessidade de sua presença antes mesmo da chegada efetiva das tropas. Por outro lado, a prefeita de Los Angeles, Karen Bass, negou a presença das tropas federais na cidade inicialmente, gerando confusão e aumentando a desconfiança pública. Essa disparidade de informações reflete a profunda divisão e a politização em torno do tema da segurança e da imigração.
Um conflito de poder e princípios
- A mobilização da Guarda Nacional em Los Angeles é um exemplo marcante do conflito latente entre o poder federal e estadual nos Estados Unidos. Além disso, ela reacendeu debates cruciais sobre a política de imigração, os limites da repressão a protestos e os direitos civis. Enquanto o ex-presidente Trump defendeu a ação como uma medida necessária para "proteger propriedades federais" e manter a ordem, críticos argumentaram que a federalização unilateral da Guarda Nacional representava um risco à democracia e uma escalada desnecessária da violência.
O episódio de Los Angeles não é apenas um eco de momentos críticos da história americana, como os turbulentos anos 1960 e os distúrbios de 1992, mas também adiciona uma nuance contemporânea: a crescente politização de forças militares em um cenário de profunda divisão social e polarização. As ramificações dessa decisão provavelmente moldarão discussões futuras sobre a governança e os direitos em tempos de crise.