"Marisa Maiô" e o impacto da IA: Como vídeos hiper-realistas estão revolucionando — e perturbando — a internet

O surgimento de personagens hiper-realistas geradas por inteligência artificial (IA), como a apresentadora fictícia Marisa Maiô, está revolucionando o mercado audiovisual e publicitário, mas também levantando questões urgentes sobre ética, direitos autorais e o impacto social da tecnologia. Criada pelo roteirista Raony Phillips usando a ferramenta Veo 3, da Google, a personagem viralizou em redes sociais e foi até utilizada em campanhas comerciais sem autorização, exemplificando os dilemas dessa nova era digital.
O fenômeno Marisa Maiô e o avanço da IA no audiovisual:
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Realismo impressionante: Os vídeos de Marisa Maiô, que satirizam programas de auditório sensacionalistas, chamam atenção pela qualidade técnica: expressões faciais, sotaque e linguagem coloquial quase indistinguíveis de humanos reais.
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Viralização e uso não autorizado: A personagem foi replicada em campanhas publicitárias sem remuneração ao criador, evidenciando lacunas na regulamentação de direitos autorais para conteúdos gerados por IA.
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Contexto histórico: O caso se assemelha a outros vídeos recentes, como influenciadores digitais bíblicos, mas destaca-se pela dificuldade em discernir ficção e realidade.
Impactos no mercado e na sociedade:
- Criatividade x automação: A IA democratiza ferramentas antes restritas a grandes estúdios, mas ameaça empregos na cadeia produtiva do audiovisual (atores, editores, roteiristas).
- Sensacionalismo algorítmico: Plataformas digitais priorizam conteúdos absurdos ou violentos para maximizar engajamento, banalizando ética e normalizando a crueldade como entretenimento.
- Efeito psicológico: A exposição constante a absurdos hiper-realistas pode reduzir a sensibilidade social e dificultar a distinção entre fato e ficção, aprofundando a crise da pós-verdade.
Desafios éticos e regulatórios:
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Falta de freios éticos: Diferente da TV tradicional (sujeita a regulamentação), conteúdos gerados por IA operam em um vácuo normativo, onde o único critério é o engajamento.
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Exemplos preocupantes: O vídeo de Marisa Maiô inclui cenas como uma briga sem intervenção e a revelação ao vivo de um cadáver, refletindo uma "dramaturgia da dor" sem responsabilidade social.
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Riscos futuros: Ferramentas acessíveis podem facilitar a criação de deepfakes violentos, discursos de ódio ou notícias falsas convincentes, com impactos na democracia e nos direitos humanos.
Respostas possíveis:
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Regulamentação: O PL 2338/23, em tramitação no Brasil, propõe regras para IA, como proteção a direitos autorais e veto a conteúdos abusivos, mas enfrenta resistência de gigantes tecnológicas.
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Rotulagem de conteúdos: Identificar vídeos sintéticos pode ajudar, mas não resolve a naturalização do absurdo, já que o público pode consumi-lo mesmo ciente da falsidade.
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Educação midiática: Combater a desinformação exige alfabetização digital para críticas às fontes e compreensão dos algoritmos.
O caso Marisa Maiô ilustra o duplo impacto da IA: enquanto expande possibilidades criativas, também desafia normas éticas e legais. Sem regulamentação eficaz, a banalização do absurdo e a erosão da verdade podem se tornar irreversíveis, afetando a democracia e a coesão social. É urgente equilibrar inovação com responsabilidade, envolvendo governos, plataformas e sociedade em um debate transparente sobre os limites da tecnologia.