Oshikatsu: Como o fenômeno dos fãs japoneses está revolucionando a economia e a cultura

No movimentado cenário urbano do Japão, especialmente em estações como a de Shinjuku, em Tóquio, cartazes personalizados celebram aniversários de ídolos pop, artistas e personagens de anime. Essas homenagens, financiadas por fãs, são parte do oshikatsu — termo que combina "oshi" (ídolo) e "katsu" (apoio ativo). Esse fenômeno cultural, que começou nas redes sociais em 2016, transformou-se em uma força econômica significativa, captando a atenção do governo e de empresas como potencial motor para reativar o consumo em um país enfrentando crises inflacionárias e estagnação.
O que é oshikatsu?
Oshikatsu refere-se às atividades dedicadas a apoiar um ídolo, seja ele um cantor, grupo musical, ator ou até personagem fictício. Esse apoio inclui:
1.
Compras de produtos: CDs, posters, mercadorias colecionáveis e ingressos para shows.
2.
Engajamento digital: Campanhas em redes sociais, criação de fanfics e fanarts.
3.
Investimento emocional: Mensagens públicas de incentivo, como os cartazes em estações de trem.
O termo surgiu como hashtag no Twitter em 2018 e, em 2021, foi candidato a "palavra do ano" no Japão, refletindo sua popularização.
Importância econômica do oshikatsu
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Gastos significativos: Uma pesquisa de 2024 das empresas CDG e Oshicoco revelou que fãs gastam em média
250 mil ienes/ano (R$ 9,8 mil)
com seus ídolos. -
Contribuição para o PIB: O fenômeno movimenta
3,5 trilhões de ienes/ano (R$ 137 bilhões)
, equivalente a 2,1% das vendas do varejo japonês. -
Demografia ampla: Dados da Harumeku mostram que 46% das mulheres na casa dos 50 anos apoiam financeiramente seus ídolos, desafiando a ideia de que oshikatsu é restrito a jovens.
Relevância social e cultural
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Mudança de papéis de gênero: Mulheres são as principais financiadoras de ídolos masculinos, invertendo estereótipos tradicionais japoneses.
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Resposta à solidão: Pesquisas indicam que oshikatsu supre carências de conexão em uma sociedade onde relacionamentos íntimos são vistos como "problemáticos" por muitos jovens.
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Novas formas de consumo: Serviços pagos que oferecem companhia temporária (como "aluguel de amigos") ganham espaço, mostrando uma comercialização das relações humanas.
Desafios e críticas
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Sustentabilidade econômica: Apesar do otimismo do governo, especialistas duvidam que oshikatsu seja suficiente para reativar o crescimento, já que parte dos gastos vai para ídolos independentes, não a grandes corporações.
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Risco de esvaziamento cultural: A aprovação oficial pode tornar o fenômeno "menos cool" para jovens, reduzindo seu apelo a longo prazo.
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Preocupações sociais: A dependência de conexões pagas pode agravar o isolamento, em vez de resolver suas causas profundas.
Oshikatsu como espelho do Japão moderno
Oshikatsu é mais que um hobby — é um sintoma das transformações no Japão pós-pandemia. Se, por um lado, impulsiona setores da economia e cria comunidades, por outro, reflete desafios como solidão e dificuldades financeiras entre jovens. Seu futuro dependerá do equilíbrio entre aproveitar seu potencial econômico e preservar a autenticidade cultural que o tornou relevante. Enquanto isso, o fenômeno segue como um fascinante estudo de caso sobre como paixões pessoais podem moldar mercados e sociedades.