Lei da reciprocidade: Como o Brasil pode revidar o tarifaço de Trump e proteger sua economia - Declaração de Lula na íntegra

Em 9 de julho de 2025, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros exportados para os EUA. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva citou a Lei da Reciprocidade Econômica, sancionada em abril do mesmo ano, como instrumento legal para contramedidas. O episódio reacendeu debates sobre soberania comercial e as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
O que é a lei da reciprocidade econômica?
A lei, aprovada com apoio unânime no Congresso brasileiro, autoriza o governo a adotar medidas de retaliação contra países ou blocos econômicos que imponham barreiras comerciais injustas ao Brasil. Entre as ações permitidas estão:
- Sobretaxas na importação de bens e serviços do país retaliador.
- Suspensão de acordos comerciais ou obrigações bilaterais.
- Em casos extremos, restrições a direitos de propriedade intelectual, como patentes e royalties.
A legislação fortalece a capacidade do Brasil de reagir a práticas consideradas abusivas, alinhando-se a princípios de defesa da economia nacional.
Como a lei funciona na prática?
O texto permite que o Brasil suspenda temporariamente o princípio da "nação mais favorecida" da OMC, que exige tratamento igualitário entre parceiros comerciais. Com isso, o país pode:
- Aplicar tarifas seletivas contra nações que adotem medidas discriminatórias.
- Justificar respostas mesmo que contrariem regras gerais da OMC, desde que haja comprovação de danos.
- Exemplo: Se um país eleva tarifas especificamente para produtos brasileiros, o Brasil pode retaliar com medidas equivalentes, sem precisar estendê-las a outros parceiros.
O Brasil já cobra tarifas dos EUA?
Sim, mas em patamares menores. Segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), em 2023:
- A tarifa nominal média sobre importações dos EUA era de 11,2%, mas a efetiva ficou em 2,7% devido a isenções setoriais.
- Os EUA têm superávit comercial com o Brasil, exportando mais do que importam.
- Dado relevante: A assimetria comercial torna as tarifas de Trump ainda mais impactantes, já que o Brasil é um mercado importante para produtos americanos.
Como o Brasil pode responder aos EUA?
Com base na nova lei, as possíveis contramedidas incluem:
- Aumento de tarifas para produtos americanos, como commodities industriais ou agrícolas.
- Revisão de acordos bilaterais, como cláusulas de cooperação tecnológica ou investimentos.
- Retaliação na área de propriedade intelectual, afetando empresas americanas que dependem do mercado brasileiro.
- Objetivo: Restabelecer equilíbrio e desencorajar medidas unilaterais, sem romper com a OMC.
Leia na íntegra resposta de Lula a Trump no X
"Tendo em vista a manifestação pública do presidente norte-americano Donald Trump apresentada em uma rede social, na tarde desta-quarta (9), é importante ressaltar:
O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.
O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.
No contexto das plataformas digitais, a sociedade brasileira rejeita conteúdos de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes, discursos contra os direitos humanos e a liberdade democrática.
No Brasil, liberdade de expressão não se confunde com agressão ou práticas violentas. Para operar em nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras estão submetidas à legislação brasileira.
É falsa a informação, no caso da relação comercial entre Brasil e Estados Unidos, sobre o alegado déficit norte-americano. As estatísticas do próprio governo dos Estados Unidos comprovam um superávit desse país no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de 410 bilhões de dólares ao longo dos últimos 15 anos.
Neste sentido, qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica.
A soberania, o respeito e a defesa intransigente dos interesses do povo brasileiro são os valores que orientam a nossa relação com o mundo."
Soberania e estratégia comercial
A Lei da Reciprocidade Econômica representa um marco na política externa brasileira, reforçando a autonomia do país em negociações internacionais. A crise com os EUA ilustra seu potencial como ferramenta de dissuasão, mas também levanta questões sobre possíveis escaladas de conflitos comerciais.
Analistas destacam que, embora a lei dê margem para respostas firmes, o caminho ideal ainda seria a mediação pela OMC para evitar danos prolongados às economias envolvidas. Lula, ao afirmar que o Brasil "não aceita tutela", sinaliza que a reciprocidade será usada para defender interesses nacionais, mas sem abandonar o multilateralismo.